quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um Trecho da Mufa: a dica “cheque”!

Esta é uma parte, não oficial, da entrevista que a Revista Mufa fez com Gilberto Monte, diretor de música da Funceb. Aproveitem as dicas em primeira mão. ;)

(...)

Gilberto - Essa expectativa que você falou, sobre a década de 70, de que alguns músicos foram e outros poderiam ter ido, eu acho que existiu aqui logo quando eu cheguei. Por exemplo, no início da década de 90, que foi outro boom da indústria fonográfica no país, principalmente a produção de música jovem, de bandas como a Penélope, que foi pra Sony, e houve a expectativa, com um cenário de bandas daqui incríveis e era um período que a Sony, a Warner, todas essas grandes gravadoras estavam pegando bandas novas, e não foram tantas. Eu lembro da Bis ter matérias com várias bandas e dizendo que aqui em Salvador tinha um cenário muito interessante, e a coisa não vingou. Mais recentemente teve a Pitty, no cenário Rock, também estourando nacionalmente e que daí poderia ter aberto um porteira pra mais gente ter ido, o que também não aconteceu. Então são ciclos, nesse olhar pra década de 70 rapidamente vemos o exemplo da década de 90 e de 2000, onde ocorreram fenômenos parecidos. Eu acho que cada vez mais essa expectativa vai se diluir, porque de uma forma geral o mercado fonográfico não vai ter mais espaços pra grandes nomes, mas nomes com grande expressão sempre vão existir, só que dificilmente teremos bandas como o U2, R.E.M, astros globais, apenas casos mais isolados. O que a gente vai ter é muito mais gente bacana conseguindo ter visibilidade sem ter esse alto nível de projeção, e isso está correlacionado com a grana.

Paulo – Mas dos anos 70 nós esquecemos de falar de Raul e do Camisa de Vênus.

Gilberto – É, o que não foi pouca coisa não.

Iara – Teve o Mar Revolto também.

Gilberto – É. Eu não acho que a década de 70, na Bahia, tenha sido esse silêncio não. E dificuldade na área da música sempre existiu, acho que sempre vai existir, e isso não é um problema específico de Salvador, da Bahia, de São Paulo ou do Rio... Rapaz, qualquer país que eu visite tem excelentes músicos numa situação não tão ideal financeiramente, o que não corresponde à sua capacidade profissional. E tem outra coisa, muitas vezes isso acontece porque o cara é um puta músico, mas ele não é um bom profissional. Ele toca muito bem, é um bom criador, mas na hora de estar no palco não sabe se posicionar direito, não sabe se produzir, não sabe fechar um negócio, se tem um produtor que trabalha com ele e se ele não entende um pouco de produção pra bater bola com o cara, ele é facilmente trapaceado. Então muitas vezes a gente fala “fulana não deu certo, que desperdício, ou olha, aquele cara nunca foi reconhecido”, e tem apenas um olhar pra qualidade musical dele, enquanto que isso não é o único fator pra determinar o sucesso profissional. O cara tem que ser, antes de mais nada, um empreendedor musical, tem que estar muito completo nesse sentido. Então tem muita coisa boa musicalmente que se perde porque não teve habilidade de mercado, mínina, de dialogar com o dono de uma casa, de fechar um espaço. Isso não é só na música, é em qualquer área de produção do conhecimento. Até na academia, porque todo mundo fala “não, a academia ainda é o reduto”. Tudo bem, você pode ir pra lá e ser um professor de faculdade e simplesmente dar uma aula, ir pra casa e ficar no seu universo, você vai ter um salariozinho “desse” tamanho. Aí tem um outro professor que fez todas as especializações possíveis, que sempre escreve artigos, produz eventos acadêmicos, pô, isso tudo vai entrando como gratificação. Esse é um cara que sabe se posicionar dentro do meio dele, além de ter uma produção de qualidade, ele sabe fazer a cosia acontecer...

Paulo – Posicionamento político.

Gilberto – Empreendedorismo, cara. Posicionamento político e, a partir disso, empreendedorismo. O que esbarra no início da nossa conversa que é: não basta ter apenas uma boa ideia, o mais difícil é realizá-la, sacou? Por isso que a gente fala “ah, o cara nem é tão bom artista, mas se deu bem, como foi isso?”. Ó, uma coisa: é muito difícil uma artista saber falar sobre a sua criação, são poucos que conseguem. O cara que consegue fazer bem isso está a anos-luz de distância dos outros. Porque, 1°, as pessoas precisam saber que você criou, quem vai falar disso: a imprensa, e eu tenho que saber falar sobre isso que eu criei pra você poder escrever bem sobre o que eu estou fazendo, se não vira um discurso genérico, como a maioria dos releases. “minha influência é Miles Davis, Led Zeppelin...”. Essas influências são as de todo mundo, cara! Todo mundo têm as melhores influências.

Paulo – Todo mundo quis ser músico quando criança, né. (risos).

Gilberto – E esse discurso da fusão e da mistura também está em tudo, sei lá, do Fantasmão ao que tiver de mais contemporâneo na música. Então esse é um discurso meio que unificado, pasteurizado, mesmo que essa não seja a intenção. Agora, a diferença está em, vou usar uma palavra que muita gente não gosta, saber falar sobre o seu produto, aí dizem: “eu não sou produto, eu sou artista, eu não fui feito para estar numa prateleira”. Mas se você quer que consumam a sua arte e que paguem por isso, é o que eu sempre falo, a criação tem que ser feita sem “não me toques”, com total desprendimento, com o seu transbordar, e uma vez que você criou, tem que saber olhar aquilo ali e dizer o que é, saber qual público teria interesse em ouvir. Aí você começa a ter saídas de mercado.

Iara- É, isso foi um passo a passo: como fazer sucesso. (risos). Vamos lá, para a próxima pergunta (...)


Cenas do próximo capítulo (esta entrevista, versão oficial, e na íntegra) você encontra em:

http://www.mufa.com.br/Caixas_conteudos/tict_cont_3.html

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Via Bate-papo

Marcamos de nos encontrar num domingo, no MAM, ver a exposição enquanto rolava a entrevista. Não deu. Com dois trabalhos estou mais que aderindo à internet para quase tudo. Acabei propondo a entrevista online, ela topou. A primeirona do blog! Estreia de Amanda, com estilo, claro. Já chegou abalando! Do pessoal da Uneb, Mandinha é a amiga do namorado, que se tornou minha também (ti fofo!). Dá-lhe Mandinha! Vamos hablar, chica. Empiezando...


"eu: e aí, pode agora?
vou começar en
risos
Amanda: posso sim
só posso demorar um pouco para responder
que emoção! minha 1ª entrevista
hehehhehe
eu: hehehehe
ai ai
então tá
começando..."


Iara - Mandinha, a primeirona é: Do que o mundo mais precisa atualmente?
Mandinha - De mais humanidade. De mais carinho. De mais amor. Essa vida transloucada, derivada dessa necessidade constante do rápido, nos trouxe frieza e uma falta de olhar para o outro. Nós, brasileiros, ainda temos essa coisa do abraço apertado, do eu te amo. Mas o que somos nós diante de uma população de bem mais pra lá de 6 bilhões de pessoas?

Iara – É verdade. Adorei sua resposta. ;)
Mandinha - Olhe onde nós chegamos. Estou estreando a 1ª entrevista virtual no blog, mas eu moro na mesma cidade que você.

Iara - Risos, é a falta de tempo menina, tá complicado. Mas é sintomático isso, é coisa da nossa geração.
Mandinha - Risos também. Qual a próxima pergunta?

Iara - Sim, vamos lá: uma palavra para Família.
Mandinha - Você sabe que faço terapia há quase dois anos e uma das coisas que seria o cerne de todas as nossas questões é a família. Neste momento lhe digo que família é redescobrimento.

Iara - Ó, agora uma pergunta complexa. Uma aluna minha, da 6° série, me fez essa pergunta enquanto estudávamos o islamismo, achei interessante e intrigante, e vou passar o pepino pra você: quantos Deuses existem?
Mandinha - Bom, para mim só existe um Deus (o único e todo poderoso, o criador do Céu e da Terra). Mas, falar de religião é sempre complicado e isso eu respeito pra caramba. Ou seja, a quantidade de Deuses dependerá da sua crença.

Iara - Outra: uma opinião sobre João Henrique.
Mandinha - Ops. Política. Eu não sou a pessoa mais envolvida com política do mundo (até porque se fosse poderia estar envolvida em algum escândalo ou sendo relatora de alguma CPI. Ô! Não sei até onde o $ pode me corromper). Mas, sendo direta, não seria melhor reformular a pergunta para: o que você acha do governo de João Henrique? Todavia, se a pergunta for essa mesmo, eu não vou com a cara dele mesmo sem conhecê-lo.

Iara – Ai, eu e minhas perguntas estranhas. Mas tá bom, vamos lá. Essa pergunta acho que você vai gostar mais: como seria viver fora da país? É realmente uma grande ideia?
Mandinha - Ah! Aí não vale porque você tem conhecimento de causa. Uahuahuaha.

Iara - Oxi rapaz, responda, vá. Risos.
Mandinha - Essa resposta depende de quanto a pessoa é aberta a novidades e se é corajosa. Porque por mais que se estude e se tenha conhecimento de um outro país (cultura, costumes, etc), largar seus amigos, família e digamos, sua vida, não é para qualquer um. Porém, tenho em mente que é uma grande ideia sim! Vivenciar um pouco daquilo que se lê, vê e escuta. Além de ser uma grande forma de crescimento pessoal. É como escrevi no início, vai depender da pessoa.

Iara – Mas, digo, no sentido de vida toda, de abandonar o país... Porque pra trabalhar, viver, talvez fosse melhor escolher outro lugar, entende?
Mandinha - Sim, sim. Para isso eu não tenho coragem não. Mas acho uma grande ideia. Já que se tem tantos países e tantas facilidades de locomoção, por que eu tenho que viver e morrer em meu país?

Iara – Bom, pra finalizar, então a última: gostou da entrevista nesse formato? Risos.
Mandinha - Assim, eu gostaria de ser entrevistada na beira do mar com a vista do MAM-BA, mas como o tal do tempo não permitiu... O bom é que se tenham diversas modalidades para se conseguir entrevistas. A Rita Lee, por exemplo, utiliza esse recurso a favor dela porque assim evita entrar em contato com entrevistadores chatos. o que não é o seu caso. Risos!

Iara – Pô Mandinha. Escaldou tudo! Risos.
Mandinha - Eu não. A Rita Lee.

(Dois dias depois)

Iara - Mandinha, faltou eu te fazer a pergunta que a última entrevistada deixou: "O que é realmente importante para você?"
Mandinha - Ser feliz!!!! Posso deixar minha pergunta para o próximo? Lá vai: 2014 ou 2016? Faltou o meu obrigada e beijinhossssssssssssssssssssss.

:)))))))))))))))))


* crédito da foto: Marina Marques

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Uma mulher brasileira

Senti que Ana ficou realmente feliz quando soube que a entrevista não era com Ana Georgina, Economista Supervisora do DIEESE, mas sim com Ana - a colega; Aninha - que se percebeu aos 13 anos; Ana Geo - a amiga, a chefe incomparável, a fã do Morrisey, a viajante do mundo afora, mas sobretudo, a Ana - mulher brasileira que trabalha bastante, ama, amadurece e tem um coração enorme. Quisera entrevistar todas elas. Entretanto, foi melhor exibir um pouco dela aqui e deixar que um dia contemplem sua pluralidade pessoalmente.



Beto – Então, a primeira pergunta é. Essa primeira na verdade não fui eu quem elaborou, foi um dos últimos entrevistados que fez e deixou pra você, não especificamente, mas deixou para o próximo entrevistado, que no caso é você (risos). Então, a pergunta é: O que você faria se o mundo acabasse amanhã?
Ana – Nossa, é uma pergunta que me faço muitas vezes e nunca consegui chegar a uma conclusão exata. Eu queria fazer muitas coisas se o mundo acabasse amanhã, mas acho que talvez eu tentasse fazer algo que nunca fiz, só que tem muitas coisas que eu nunca fiz e é difícil saber e escolher... E a ideia de fim é muito radical, né. Quando eu penso no fim eu gostaria de estar com as pessoas que eu gosto, nos últimos momentos, e fazendo coisas diferentes, coisas loucas, só que eu gosto de muita gente que está espalhada pelo mundo, então eu não sei exatamente com quais dessas pessoas eu estaria. Só sei que eu gostaria de estar com pessoas que eu gosto muito e fazendo coisas que sempre quis e nunca pude fazer. Eu tenho uma amiga que disse que talvez pulasse de pára-quedas, porque sempre teve medo de pular, embora ela tenha vontade, mas já que o mundo ia acabar ela se sentiria encorajada. Eu gostaria, talvez, de encerrar minha estadia no mundo entrando no mar e sem precisar sair, entende? Eu gosto de mar, mas é algo que me causa um certo medo e eu acho que seria massa.

Beto – Muito bem. A minha primeira: Como é a maturidade do amor?
Ana – Uh, como assim? (risos) Olha, sinceramente, eu não conheço ninguém que seja maduro no amor. Todos que eu conheço que de fato amam, por mais maduros e espiritualizados que sejam, isso é sempre um calcanhar de Aquiles pra todo mundo. Exatamente por que você é tragado por uma coisa que não sabe onde vai dar. Eu acho que todo mundo quando se apaixona, embora seja uma coisa maravilhosa, têm muito medo do que isso possa significar de entrega, de estar na mão do outro, então por isso eu acho que a gente não consegue ser maduro, por que o medo, a cautela, ou então a falta dos dois, por você se entregar muito, tornam a gente um tanto quanto imaturo. Pelo que eu era aos 13 anos e para o que sou hoje, acho que em algumas coisas eu melhorei, mas no amor sinto que estou andando em círculos. Eu aprendi coisas pra determinadas pessoas, mas pra outras que entram na minha vida eu não sei nada, então não há, em minha opinião, maturidade.

Beto – Qual é a principal característica da mulher brasileira?
Ana – Olha, acho que a principal característica da mulher brasileira é que nós somos muito obstinadas, muito guerreiras. Isto em todos os aspectos. Somos muito batalhadoras. Não temos ainda um espaço. Não me refiro apenas ao mercado de trabalho, política... O Brasil é um país difícil pra todo mundo, e pras mulheres normalmente essa dificuldade é maior. Eu acho que o espírito de luta, a obstinação são as principais características da mulher brasileira. Embora todo o resto da humanidade queira nos fazer crer que somos belas, atraentes... eu acho que até nós somos. Mas eu não gostaria, como mulher brasileira, de ser lembrada apenas por isso. Mas sim que somos mulheres muito batalhadoras e muito inteligentes. Se você levar em consideração que uma boa parcela da população feminina do Brasil banca sua família sozinha, com filhos e outros dependentes, muitas vezes fazendo mil malabarismos, eu diria que as principais características são a criatividade, a obstinação e o espírito de luta. Não é uma só, são várias características. Ainda bem.

Beto – Eu sabia que você teria uma ótima resposta pra essa pergunta.
Ana – (Risos) Imagina...

Beto – Continuando as perguntas sérias, o que há de certo e de errado no Brasil?
Ana – Ai, nossa... De errado há muita coisa, mas eu acho que a gente também tem um hábito cultural de sempre ver o que tá errado, e todo mundo olha, discute, por exemplo: as pessoas reclamam da falta de educação, da falta de mobilidade, mas eu vejo muita gente que reclama parando na faixa de pedestre, ou estacionado na calçada bloqueando a passagem das pessoas. Coisas simples, como jogar o lixo no chão. A falta de noção do direito do outro. Do seu próprio direito. Eu acho que essas coisas não são direito meu, são direito de todos. É meu porque é de todo mundo. As pessoas gostam muito de reclamar do que está errado, mas elas não gostam de ceder um milímetro do seu conforto. Há muito pouca disposição de mudar o que há de errado começando pelas pequenas coisas. Em relação ao que há de certo, apesar da vida não ser fácil, as pessoas não perdem um sentimento de que “vale a pena.” A gente tá falando da maioria quase absoluta da população, que se você olhar de uma forma fria, talvez não tivesse motivo nenhum pra querer amanhecer no dia seguinte. E essas pessoas têm prazer em estar vivas. Acho que a gente herdou isso de nossa origem africana, porque é surpreendente quando a gente observa nos documentários e reportagens sobre a África aquelas pessoas... se elas se compararem com qualquer outra pessoa pelo padrão médio de vida elas vão achar que não têm direito a vida. E elas têm uma vontade e uma alegria absurda de continuar vivendo. Nós herdamos isso e essa grande mistura que somos pode ter potencializado. E aí é sem duvida nossa grande característica porque quando você tem prazer de estar vivo você faz tudo pra sobreviver, aflora uma coisa maravilhosa que é a criatividade. Não é a toa que falam que o brasileiro é tão criativo... bom na música, nas artes, é obvio! É um tipo de sobrevivência. É o nosso ponto mais forte. Se isso fosse aliado a condições de acesso a educação e cultura, acho que não teria pra ninguém.

Beto – Se você tivesse que fazer uma viagem de carro e tivesse que levar uma dessas duplas, qual você levaria: Morrisey e Bush ou Chico Buarque e ACM?
Ana Geo – (Risos) Putz, mas isso não é justo! Não poderia ser o Morrisey e Chico? Não sei... Olha, não é segredo pra você que eu sou alucinada pelo Morrisey. Por outro lado o Chico é uma pessoa que me apaixono a cada dia mais por admiração, porque o acho um cara que fez 65 anos de idade e hora após hora ainda tem o que dizer, ainda tem com o que se surpreender e nos surpreender. É bem pertinente essa pergunta por que estou lendo um livro dele. E quando pensamos que ele já fez tudo de bom que podia ter feito, a gente se surpreende vendo que o cara é uma usina de boas ideias. Sem ser pretensioso ou arrogante. Pelo menos em língua portuguesa, eu não conheço ninguém que fale tão bem da alma feminina como ele. Politicamente ele tem uma importância gigantesca. Quando você pega a obra dele no período mais complicado do país, ele consegue com sutileza dar uns recados muito contundentes, que todo mundo queria. E tenho também um sentimento de orgulho do Chico ser brasileiro. Não que Morrisey se diminui por ser inglês. Pelo contrario, ele me dá uma sensação de que os males humanos são universais. Os sentimentos são humanos, não têm barreira geográfica. E ele continua falando coisas interessantes desde que eu tinha 13 anos... (sempre falo dos 13, né? Mas é que aos 13 eu passei a existir como pessoa com gostos, pensamentos... me descobri gente com 13 anos.) E de lá pra cá o Morrisey sempre esteve presente. Ele não ficou velho, é atual embora fale de velhas coisas. Eu faria a opção pelo Chico e ACM. (risos) O ACM tem uma historia de amor e ódio com as pessoas em geral, rs... eu nunca vi alguém que despertasse tanta paixão e tanta repulsa. Ele foi uma pessoa que não causou indiferença nas outras, rs. E não acho que na esfera política ele tenha sido diferente da maioria dos políticos brasileiros, que são de uma tacanhice absurda, infelizmente. Eu o vejo como uma figura meio folclórica, tipo Curupira ou Mula-sem-cabeça. Ele é um mito. Já ouvi coisas bonitas e coisas horrorosas a respeito dele. Então é impossível não ter certa curiosidade por alguém que viveu a sua vida despertando esse tipo de sentimento nas pessoas. Eu nunca vi o Bush como uma encarnação do mal. Sempre o vi como uma pessoa muito limitada, uma figura patética. O Bush é a antítese do ACM em relação à questão de personalidade. Ele não deixou uma marca. Será lembrado como um idiota. A imagem que tenho do Bush é no 11 de setembro, ele com os olhos arregalados “meu Deus do céu, quem poderá me defender?!” Eu não gosto do Bush, não porque ele é uma pessoa fraca, mas porque ele é o tipo de pessoa que PENSA que é mais forte que os outros. Mas eu reitero que minha opção seria o Chico e Morrisey, mas confesso que me daria um prazer muito grande ver um papo do ACM com o Chico (risos).

Beto – Se você encontrasse com o Morrisey, sobre o que conversaria?
Ana Geo – Eu acho que a primeira coisa que iria falar pra ele seria: Morrisey, eu sei exatamente o que suas musicas querem dizer, sei exatamente o que você sente. Eu sinto da mesma forma. Não tenho ilusões de que ele seja uma pessoa fácil, dá pra perceber pelas musicas. Elas sempre falaram de pessoas com muito sangue nas veias, muito sentimento, e que não têm como colocar isso pra fora, por impossibilidades, amores não correspondidos...

(Depois de um milhão de coisas sobre identificação com Morrisey, e até mesmo sobre Renato Russo, Chico e Gilberto Gil...)

Ana Geo - Eu falaria com o Morrisey sobre tudo, até as coisas mais banais... É que quando penso no Morrisey eu nunca penso nele dando oportunidade pra alguém se aproximar a ponto de ter uma conversa.

Beto – Eu vou mandar pra ele o link do blog pra te conhecer mais, viu Ana.
Ana – (Risos) Acho que a maneira que ele tem de se comunicar com o mundo é essa, através das músicas dele, o que ele faz maravilhosamente bem. De repente a gente ia sentar e conversar sobre a neblina, o clima londrino, não sei, talvez nada... Eu ia gostar tanto de estar perto dele, bater um papo meio telepático, eu não ia escapar dessa coisa muito brega de dizer que eu gosto muito dele... Disso eu não ia escapar. Ele me dando moral ou não (risos).

Beto – Faça uma pergunta para o próximo entrevistado.
Ana Geo – “O que é realmente importante pra você?” Quando sou apresentada pra alguém eu sempre tento saber isso. A pessoa poderá falar muito, mas em algum momento da resposta você vai saber o que é mesmo importante e daí você pode “adivinhar” várias coisas.

sábado, 12 de setembro de 2009

A Santíssima Trindade

Acompanhei algumas vezes as andanças da santíssima trindade, após as aulas do Cefet, pelo centro de Salvador. Conheci vários locais undergrounds, me lembrei agora de um sebo de vinil, será que existe ainda? Bom, esse nome nós criamos agora, não era um “movimento organizado” nem nada, era só a mais pura amizade estudantil, num colégio que eu admirei muito, e lá fiz bons amigos. Numa retrospectiva Cefet, aí vai uma entrevista tripla:


Juli - Posso contar uma coisa engraçada, do Cefet, que eu estava lembrando outro dia?
Iara – Pode.
Juli - Eu tava lembrando que logo que eu comecei a andar com o Rodrigo e o Fernando, a gente tinha uns trabalhos pra fazer, e num dos trabalhos eu fiz um Planeta Terra com massinha de modelar...
Rodrigo - Na capa.
Juli – Isso! E eu fui tentar fazer outros trabalhos com eles, mas acho que na época eu tava muito “banda vuô”, eu lembro que Fernando ficou meio assim: iii, essa guria vai colar de novo? Ela não quer fazer nada (risos).
Rodrigo - Eu gostei do planetinha, e eu tenho certeza que 70% da nota foi por causa do planetinha.

Iara – Então tá, é isso que eu ia perguntar: como foi que começou a amizade?
Rodrigo – Ah, foi assim: eu me lembro da primeira vez que falei com o Fernando, eu chamei ele de mineiro e quase apanhei por essa constatação óbvia.
Fernando – É, começou com um acesso de raiva, eu sentindo raiva de Rodrigo.
Rodrigo – Eu tava descendo o pavilhão 1 de aula, que ficava na frente da praça vermelha, ele falou na sala de aula e eu percebi que ele era mineiro, aí eu falei: oi mineiro. Aí ele me xingou de alguma forma escrota e saiu. Eu pensei: porra, legal, assim começa uma grande amizade, todas as grandes amizades começam com um palavrão, lógico.

Iara – Sim, aí vocês começaram a falar com Juliana por causa do trabalho?
Juli – Rapaz, a gente começou a se falar mesmo no 2° ano.
Fernando – É, engraçado que Juliana só se integrou à gente mais no 2° ano.
Rodrigo – Ou a gente se integrou à ela.
Juli – Na verdade eu só me integrei, no colégio, lá pelo 2° ano (risos).
Rodrigo – A Juliana era estranha, não que ela não seja mais.
Fernando – Naquelas dinâmicas de integração que os professores faziam no começo do ano, Caracas! Não havia a menor chance de ser amigos né, era água e óleo puro. Só que o 2° ano meio que mostrou pra gente que era pra misturar mesmo.
Juli – E bota misturar nisso. Até hoje eu tenho os bilhetinhos da gente escrevendo na aula (risos).
Fernando – É, tudo bem, a gente tinha 16 anos né. O mais show foi quando o Rodrigo comprou uma calculadora algébrica, ela escrevia os algarismos, a gente batia papo pela calculadora.
Rodrigo – MSN de calculadora!
Juli – Tá aqui em casa ela. Ah, eu só quero falar mais uma coisa, eu preciso dizer isso. No 2° ano, na verdade, eu tava pra desistir do colégio, eu não aguentava mais, e uma das coisas que me ajudou a ficar foi me juntar com os dois. Foi tipo tábua de salvação... E às vezes a gente ficava lá à tarde, e quando eu tava meio estranha a gente comprava um pote de sorvete e destruía (risos). Cara, me ajudaram muuuito a levar adiante, porque realmente...
Rodrigo – É, era uma época estranha...
Iara – É, o Cefet era muito puxado.

(Papo falando mal das pobres professoras de exatas – tsc, tsc, coisa feia! risos)

Fernando - Será que cabe a gente falar da nossa fase evangélica, Rodrigo? Ou será que Juliana pode ser poupada disso?
Juli – Ôôô, eu sobrevivi, tá, segue. Próxima pergunta.

Iara – Como assim fase evangélica? Vocês começaram a ler a "Briba"?
Os três – (Comoção geral) Não, muito pior...
Rodrigo – Existe um movimento evangélico no Cefet chamado Shalon.
Fernando – Existia um forte núcleo evangélico na nossa sala.
Iara – Ah, eu lembro disso!
Rodrigo – Marcos, um grande amigo nosso, era evangélico.
Fernando – Marcos era legal às vezes, ele aceitava dialogar, e enquanto a gente esteve dentro do Cefet ele fez parte desse grupo. Ou seja, era um quarteto. Quase um quinteto na época do Piuí.
Juli – Ah, eu quero dizer que não participei disso!

Iara – Nossa infância foi mais feliz com menos tecnologia?
(Silêncio total)
Iara – Tá gente, eu sei que formulo mal minhas perguntas.
Rodrigo – É em comparação com a minha infância agora, com tecnologia, ou com a infância que eu tive, sem tecnologia? (risos)
Juli – Eu acho que não é a tecnologia que faz a infância mais feliz ou não, o que acontece é uma confluência de coisas que vieram junto com essa tecnologia, a tal da era da informação, que significa você passar mais tempo na rua trabalhando, individualismo, famílias menores, o que configura algo diferente, tipo, as crianças têm mais amizade com a Tv e o videogame do que com pessoas, não andam tanto de bicicleta, não sobem em árvore...
Rodrigo – Tá meio inseguro sair na rua hoje em dia. Mas acho que sim, acho que a minha infância foi mais feliz do jeito que foi, do que seria hoje, ou foi mais completa. Pelo menos eu tive experiências que hoje eu não teria e acho que fariam falta, tipo subir em árvore é legal, se arrebentar também, cair de bicicleta, brigar com amiguinho na rua, pô, brigar com amiguinho é fundamental.
Fernando – Disso eu não posso reclamar, porque eu passei mais de dez anos da minha infância com o meu irmão e a gente morava na zona rural. E ir à cidade era uma alegria pros nossos primos, porque era mais gente pra brincar com eles, aí a gente inventava umas brincadeiras mais urbanas, se esconder nas ruas e tal.
Rodrigo – Tocar a campainha e correr! Essa geração não tocou a campinha e correu.
Juli – Ah, tocou sim, outro dia fizeram isso aqui na porta (risos). Mas eu não acho que a tecnologia seja o problema.
Fernando – Assim, mas eu ainda acho que o maior problema é como eles estão usando a internet justamente para encurtar a infância e estender a adolescência. Porque se fosse pra promover maior integração entre as crianças pra que elas pudessem fazer coisas semelhantes ao que a gente fazia, só que propiciadas pela tecnologia, não sei se isso seria ruim não, talvez fosse bom.

Iara – História sem fim, Duro de Matar ou Coração Valente?
Fernando – História sem fim.
Juli – Filme: Coração Valente. Se for o livro, História sem fim.
Rodrigo – Matrix.
(Risos gerais)

Iara – O gol mais bonito de todos os tempos.
Rodrigo – Ah, eu sei o meu! 2005, Grêmio na série B, contra o Náutico, nos Aflitos, último jogo do campeonato, Grêmio precisando ganhar pra ser campeão e subir pra série A. 4 jogadores do Grêmio expulsos, 2 pênaltis contra, um o goleiro pega e o outro vai na trave. Daí Anderson faz o gol sozinho, totalmente abatido, e o time mais incompetente da história foi o Náutico, mas foi o gol mais lindo do mundo, depois daquele gol de Renato no Mundial. Aos 61 do 2° tempo, depois de 20 minutos de paralisação, expulsão e briga em campo, e... foi legal. Vejam isso no youtube. (risos).
Fernando – Final da Copa América, Brasil x Argentina, a gente lá no Chuleta, comemorando o aniversário de Iuri e aí o porra do Adriano salva a péssima campanha da seleção brasileira fazendo um gol no finalzinho, traumatizando os argentinos e impedindo que eles ganhassem de qualquer jeito nos pênaltis. Detalhes para o Rodrigo torcendo violentamente para a Argentina e ele solitariamente vencendo o jogo até o final, quando o Adriano faz o gol e todo o bar perturba o juízo do pobre garoto.
Juli – Acho que se eu for falar de qualquer gol, só seria capaz de pensar em futebol de robô. Não tenho registro de gol bonito, lembro de ter visto alguns gols depois que eu comecei a trabalhar com futebol de robô. Tiveram alguns jogos que a gente praticamente fazia gol no grito (risos). Ou a gente fazia ou perdia, já no finalzinho dos jogos. Acho que esses são os gols mais marcantes que eu tenho. Bahia MR bicampeão brasileiro, Salvador e Florianópolis (risos).

Iara – A religião é o ópio do povo?
Rodrigo – É! Um dos.
Fernando – Marx precisa ser relido no Brasil. Eu acho que o futebol é muito mais ópio hoje do que a religião, aqui. Os números da Universal do Reino de Deus são assustadores, mas não me assustam tanto, em termo nacional. Eu acho que se destruíssem todas as Igrejas Universais, o movimento no Brasil seria bem menor do que se destruíssem todos os estádios de futebol, entendeu?
Juli – Bem ou mal tem cristãos, evangélicos e espíritas no estádio (risos). A religião, como a maior parte das pessoas pratica, eu acho que é ópio, mas no sentido de religiosidade, de espiritualidade, eu acho importante.

Iara – Um livro muito bom.
Fernando – Meu Deus, que cruel! Acho que a do filme era mais fácil. Poxa, eu sou obrigado a dizer um livro, sacanagem, eu vou dizer Crime e Castigo, do Dostoievski, foi um livro que me marcou.
Rodrigo – Pô, escolher 1 é sacanagem mesmo, mas um livro que mudou a minha vida foi uma trilogia...
Iara Senhor dos Anéis (risos).
Rodrigo – Não, o Senhor dos Anéis foi importante também, mas não foi o que deu o “baque”. O que deu o “baque” mesmo foi o do Sartre, a trilogia Os Caminhos da Liberdade, e A Peste, do Albert Camus. Se eu tivesse que escolher um só seria A Peste.
Juli – Tem três livros que foram muito interessantes, pelo fato de que foram livros que interagiram, sabe? O 1984 que é violentíssimo, George Orwell , o Cem anos de solidão, que é absurdo! Eu via borboletas por aí, porra! São 4! (risos). Grande Sertão: Veredas, eu o li na UFBA, e eu lembro que eu tinha acabado de ler o Cem anos de solidão, e era engraçado porque os livros eram mais ou menos do mesmo tamanho, mas era como se o Grande Sertão: Veredas fosse bem mais pesado, e eu tinha a sensação de que realmente ele carregava o mundo dentro dele. E pela questão da interação eu não posso deixar de falar do Ensaio Sobre a Cegueira, porque eu pensava: pô, eu tenho que ir pegar ônibus, mas como, se eu sou cega? (risos). É incrível como esses livros me fizeram entrar completamente na história.

Iara – Ok, vou usar a dica que Juli deixou no blog: Deixem uma pergunta para os próximos entrevistados.
Fernando – Uma pergunta para a posteridade.
Rodrigo – Não era pro próximo entrevistado?
Fernando – Sim, ele será pós à gente.
Rodrigo – Eu tenho uma pergunta: oi, tudo bem?
Juli – Não, ele tá me fazendo fazer uma pergunta idiota, mas eu não vou fazer, não vou fazer (risos)!
Fernando – Você costuma fazer perguntas, tipo, o que você faria se o mundo acabasse amanhã?
Iara – Eu nunca fiz essa... Essa é meio batida, né Fernando? Mas é legal.
Rodrigo – Ah, eu tenho uma melhor: qual é o seu pecado capital favorito? Você descobre muito sobre a pessoa depois de perguntar isso.
Juli – Ah, eu tenho uma pergunta ótima: homem ou mulher?
Rodrigo – Gente, isso é do mal. É uma pergunta, não é pra deixar o cara em crise (risos).

Valeu meninos e menina! :)
* um valeu para Bruno, o fotógrafo da noite.

domingo, 30 de agosto de 2009

Posso fazer uma pergunta?

A primeira vez que vi a natureza deste blog, sobre pessoas comuns, ainda assim interessantes, de imediato imaginei as possíveis respostas de Rafael. Amigo há dez anos. Figura cuja popularidade só perde para a singularidade, Bradoque rimou atleta com poeta. Arteiro, entrevistou na própria entrevista. Agora procura se há “crime na arte”...
Ô Dodoque, onde você vai parar, hein?!
(Beto)


Bradoque – Sim, não tem aquele negócio lá do mundo de azul e o num sei o que de vermelho?
Iara – Quê? Ah, pinta a parede de azul...
Bradoque – Sim! Aí eu fiz um poema inspirado nela...
Iara – O que foi que você viu nessa música criatura?
Bradoque- Essa música é bonita. Então, o que acontece... Em 2007, no dia 27 de setembro, dia em que o Bahia tava subindo pra 2° divisão, e que a galera caiu lá na Fonte Nova, aí eu fiz um poema trabalhando com as cores e fazendo referência a esse acidente, e foi interessante (barulho de portão abrindo).Vamos? Vamos no Bompreço, por favor, eu acho o Bompreço fantástico.
Iara – Vamos, vamos...
(Beto e Júlia à tira colo.)

Madrugada no Bompreço de Armação...

Bradoque – Prometo falar a verdade, nada mais que a verdade, simplesmente a verdade em nome de Deus (risos). Vamos andando, vamos andando...
Iara – Bradoque, se concentre! (risos) Primeiro você tem que dizer o seu nome todo.
Bradoque – Rafael Alexandre Gomes dos Prazeres. Alexandre de parte de mãe e Gomes dos prazeres de parte de pai.

Iara – E porque Bradoque?
Bradoque – Ah, Bradoque é uma longa história. Eu estudava no mesmo curso Pré-Cefet que o pai de Beto ensina (risos gerais), e tinha um rito de passagem pra quem tava iniciando lá, que era o corredor polonês. Aí você ficava num corredor bem grande, pela quantidade de gente, e as pessoas só podiam bater na direção que você estava correndo, ou seja, na bunda e nas costas, só não podia na cabeça. Na época eu fazia judô, competição e tal, tava com o físico em alta, e passei tão rápido que pouco apanhei, e aí Gordinho falou: "pô, correu rápido que nem Bradoque." E também por causa dos meus olhos azuis, do meu cabelo loiro... (risos).
Beto – E aí, qual será o álcool que nós vamos tomar?
...
Iara – Qual é a próxima pergunta?
Bradoque – Eu posso te fazer uma pergunta? Por que você fez esse blog assim, qual a intenção do blog?

Iara – Verás (risos), verás... Então, Bradoque: o que há de novo na atualidade?
Bradoque – Algumas pessoas falam que não há nada de novo na atualidade, e eu discordo completamente, porque o que há de novo as pessoas conhecem, entendeu? Por exemplo, na música, tem muita gente fazendo muita coisa boa, na poesia também tem muita gente fazendo coisa boa. Então o que há de novo depende muito do local, do que se trata... A cerveja! Tem a Skol de 1 litro (risos). Tem muita coisa nova, mas o que há de novo que nunca existiu na vida... Não lembro agora. Ah, o arrocha é algo novo.

Iara – Mas o arrocha é música italiana abaianada.
Bradoque – Mas é novo, é igual àqueles elementos da tabela periódica, e existem aqueles todos, 128, eu acho, e a partir deles tudo é criado. O Carro de 3500 reais, da Índia, é novo, nunca teve antes, é o carro mais barato do mundo.
Iara – Ok, Betooo, it’s your time.

Beto – Rafa, pra que serve a arte?
Bradoque – Pra nada, a arte não serve absolutamente pra nada. É sério. A arte não serve pra nada. Mentira da galera que diz: "ah não, mas a arte serve pra abrir a cabeça..." Mentira! A arte não serve pra nada, não tem função nenhuma, e graças a Deus que a arte não tem função, é como se o homem estivesse voltando à sua essência, ao seu radical. Quer ver um exemplo: Marx, eu odeio marxistas, odeio mesmo, de coração, mas Marx falava que a essência das coisas é voltar ao seu radical, o radical é a sua raiz necessariamente. E o homem quando é radical tem que voltar à sua raiz, nós acabamos esquecendo a nossa raiz, enquanto ser vivo e tal...

(Pausas pra escolher o que comer)

Beto – Sim, retomando o raciocínio.
Bradoque - A essência do ser humano é voltar a sua raiz, ao que ele é de fato, um ser vivo. Mas o homem esqueceu sua raiz, e a arte é uma religare com essa raiz, uma religare incondicional. E é pra isso que a arte é geralmente utilizada. Ó, Sonho de Uma Noite de Verão (vendo o pocket book)...

Beto – Por que morar no Brasil?
Bradoque – Porque eu nasci no Brasil, e eu sou brasileiro e não desisto nunca (risos). Essa pergunta é boa, imagine, eu vou perguntar pro japonês: Japonês, por que morar no Japão? - iii, é porque nasci no Japão, né! (risos). É, porque nasci aqui, é mais uma questão de ter nascido mesmo, e nada mais, não tem muita explicação pra isso não.

Iara – Uma mulher mais ou menos sexy.
Bradoque – Pô, pergunta legal. Ela é sexy, aquela não sei o que Ranaldi. Pode ser famosa? Helena Ranaldi, ela não tem bunda, não tem coxa, mas ela é bonita.

Beto – Só tenho mais uma pergunta: Qual é a lembrança mais remota que você tem na sua memória?
Bradoque - Pô, eu já me fiz essa pergunta e me bati todo, foi quando eu estava lendo uma entrevista do Ariano Suassuna, na Caros Amigos, e fizeram essa mesma pergunta pra ele. Eu tentei lembrar da minha, talvez não seja a mais remota, mas é uma das mais antigas. Eu estava viajando para Recife, de ônibus, e nós íamos pelo menos umas 3 vezes por ano, pra ver minha vó, e férias de guri é grande né. Aí numa dessas vezes, eu sentei do lado da minha irmã, e ela deitou no meu colo, aí uma senhora disse assim: “ah, que bonitinho, vocês são irmãos? Ô, vocês parecem namorados...”

Beto – Mais ou menos quantos anos?
Bradoque – Talvez uns 7 anos. Ah, teve uma vez que a gente tava voltando de lá, de avião, aí eu tava no carro de meu tio indo pro aeroporto, e desde o ponto de partida até a chegada dava uns 40 minutos, e eu fui bochechando cuspe, que depois de um tempo foi acumulando né, ficando cheio de saliva. Aí quando a gente chegou, depois daqueles quarenta minutos, eu cuspi no chão e fiquei olhando, aí meu pai disse: "sai daí menino, deve ter sido algum doente que fez isso!" (risos gerais).

sábado, 29 de agosto de 2009

Todos dizem xis de cara nova!


Gente, estou em falta com o blog esses útlimos tempos, foi mal aí. Estou sem internet temporariamente, mas logo logo voltaremos à normalidade. E ah, assinei uma parceria com um grande entrevistador, músico, RP, historiador, Beto Gois. Então..

Aguardem!
Todosdizemxis de cara nova. :)

beijos

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um barco sem fundo num oceano sem mar...

Beto me lembra o Cefet, e a vontade que eu tinha em estudar lá, me lembra os meus 15, 16 anos, o Idearium, a Dix: os bons tempos! Aí depois fomos para a mesma faculdade e criamos a Clássico Blú, e depois entramos na Pracatum. Muitas lembranças. Muita música né. Beto “de Amaral Pereira” Gois, “você contribói para o meu viver”. kkk. - Amanhã é o seu aniversário né? Milk shake de chocolate, gravador ligado, depois de muuuita conversa:

Iara - Você tem alguma dor gostosa?
Beto – Bom, se for uma dor física eu não tenho não, mas eu tenho umas dores... Eu não sei qual é a explicação pra isso, mas eu gosto... de sofrer. Eu gosto de sofrer. Gosto de filmes de terror e eu faço questão de ir ao cinema pra sofrer horrores, pra me assustar muito, me cagar de medo, entendeu? E eu costumo me apaixonar pelas mulheres que me fazem sentir medo, que possuam um olhar assustador, e eu também gosto de músicas e filmes que sejam reflexivos, com histórias tristes. Eu gosto de sofrer essa dor, acho que isso força a minha sensibilidade, e eu sinto prazer nisso.

Iara – Você faz alguém feliz?
Beto - (...) Essa é uma pergunta assim, como é que eu posso dizer... que vai explorar toda a minha... Como alguém me disse recentemente que eu sou “levemente convencido”, é uma pergunta que vai explorar todo o meu convencimento, né. Ok... Eu acho que faço muitas pessoas felizes!

Iara – Risos.
Beto – Bastante.

Iara – Ok, pergunta política agora, já que você é das comunicações e da história: Obama é o cara, ou seria o Lula?
Beto - Reformule sua pergunta, por favor. Obama tem 5 dedos nas duas mãos.

Iara – Risos. É o Obama que é o cara, ou é o Lula?
Beto – Ahhh! Bom, ambos são homens, do sexo masculino... E acho que por causa disso eles são os caras... Mas Obama é mais um político como todos os outros, assim como Lula é mais um político como todos os outros. Cada um tem a sua particularidade, pró-mudanças, uma expectativa de mudanças políticas né. Quer dizer, mas representatividade do que mudança mesmo. Eles representam a mudança, mas não que eles tragam a mudança em si. Por exemplo, Obama é preto, mas não faz parte da campanha dele ações afirmativas, e Lula vem de um movimento sindical e tudo mais, e eu não posso dizer que o movimento sindical... Olhe, o que eu posso dizer é que houve certas mudanças para a população trabalhadora com a entrada do PT... Mas ao mesmo tempo os sindicatos hoje estão mais quietos... É mais ou menos assim: se você luta por melhorias no trabalho, é sindicalizado, fica complicado reclamar quando o seu amigo está lá no poder, é meio complicado você reclamar com o seu broder, entendeu? Então, tem acontecido isso atualmente. Tá difícil alguém reclamar com o broder e o broder já sabe como é que conversa contigo pra deixar você mais calmo. Então é isso. Eu acho que os dois são políticos, apenas políticos, nenhum dos dois é herói ou mártir.

Iara – Verdade... Vou fazer uma pergunta contextualizada: como é ser Vital com seu sonho de metal?
Beto – Vital e sua moto? É fantástico. O negócio é o seguinte: ter uma moto fazia parte das dez coisas que eu gostaria de realizar na minha vida. Foi uma realização da porra! Foi ótimo, foi lindo. Andar de moto é uma delícia, como você comprovou há alguns minutos atrás. Mas aí eu caí, e morri de medo. Quando voltei a andar de moto fiquei com medinho, quem tem cú tem medo, e eu fiquei com medo de morrer, de ficar paraplégico, de me quebrar. Aí surgiram muitas propostas pr’eu abandonar a moto e comprar um carro, e eu topei. Então essa minha vida sob duas rodas está com os dias contados. Entretanto eu penso em daqui a alguns anos comprar outra moto, mais potente e continuar com o meu sonho de metal que é bom demais.

Iara – Agora nem é um pergunta “de veras”, é tipo o que a Xuxa fazia, pra responder rápido, sabe?
Beto – Ah, tipo bate e volta né? Iara, eu sou péssimo nisso.

Iara – Ó, uma música, aleatória, de cada músico/grupo que vou te dizer agora: Beatles, Nirvana, Madonna e Michael Jackson.
Beto – Billie Jean. Nirvana? Putz.. Acho que Lithium. E... Beatles é foda, eu gosto de Eleanor Rigby, é a que eu mais gosto. E qual era a outra? Ah, Madonna. Eu gosto de Like a Prayer.

Iara – Ok. Você acredita em Deus?
Beto – Eu não tenho um conceito pra Deus, eu acho que Deus é divino e eu sei lá qual é o conceito divino de Deus, eu só posso ter minhas opiniões humanas. Então eu não sei como é Deus, não sei como Ele trabalha, qual é o objetivo Dele, mas acredito que Ele exista.

Iara – É, acho que a maioria das pessoas acredita em Deus desse jeito.
Beto – Não, a maioria das pessoas vê um Deus judaico-cristão. Eu conheço pessoas que não deixam o namorado por que acham que vão sofrer retaliação, e isso é uma culpa cristã. Mas eu não acho que as coisas acontecem aqui na Terra porque Deus quis assim. Eu acho que as coisas acontecem porque acontecem, e é isso aí. É o jogo da vida. O cara que nasce surdo, nasceu surdo porque nasceu surdo. Se Deus fosse explicar tudo o que acontece com todo mundo e com todas as coisas, seria um negócio muito complexo, não faria sentido, as coisas são simplesmente assim porque acontecem assim. O Deus que a gente costuma acreditar é um Deus que interfere na vida da gente, e eu não sei se é isso. Acho que não é esse o objetivo Dele.

Iara – Uma atividade cotidiana boa.
Beto – Não é que seja a melhor coisa da minha vida, e não é que eu esteja desmerecendo o restante das coisas que eu costumo fazer, mas algo que se repete todos os dias e que pra mim é muito bom, muito agradável, e me impulsiona a sair de casa, é saber que verei Gabriela, Vanessa e Taís na Uneb, porque elas são pessoas muito agradáveis e eu gosto muito delas.

Iara – Ohhh, que lindo! Que romântico. Espero que elas comentem no blog depois. Risos.
Beto – Risos.

Iara – Agora lavando roupa suja: Por que a Clássico Blú acabou?
Beto – Porque Carlinhos se interessou por outras coisas. Risos.

Iara – É, e ponto final né. Risos. Minhas bandas nunca vão pra frente, será que é Deus? Risos.
Beto – Acontece. Risos.

(Depois de muito blá blá blá, e papos “in off”...)

Beto – Iara, você não vai pro céus de forma alguma! Risos. É aquilo, tipo, “você não vale nada, mas eu gosto de você”.

Iara – Ok Betinho. Poxa... Deixa eu ver: Uma viagem.
Beto – Oriente. Á pé, muito tempo. Bastante meditação, mas sem abandonar o sexo.

Iara – É importante né. Risos. Um hit.
Beto – Poxa, isso varia tanto, acho melhor não dizer. Tá bom... sei lá, Billie Jean.

Iara – A vida é:
Beto – Um barco sem fundo num oceano sem mar.

Iara – Essa frase é sua?
Beto – Não, eu li uma vez, mas não foi em nenhuma leitura intelectual. Foi num livro de piadas, eu acho.

Iara – Ah, ok Beto. Risos. Ah, e parabéns adiantado. ;)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A tal da voz pavorosa no gravador


E como fala essa criatura: “Eu não falo muito não, gente. É só não me dar ousadia.” Coleguinha do cinema, Rafael é Coisinho nem me lembro mais porquê, só sei que é um apelido carinhoso. E tem sido legal ver o interesse das pessoas, elas querem ser entrevistadas! Esse aí me pedia todos os dias (risos). Enfim, o dia chegou. Entre quebra-barraco, fantasmão, posters, sofá amarelo, kraftwerk... “Acho minha voz pavorosa no gravador” – Tá bom, vamos começar a entrevista...

Iara – Você tem um ideal?
Rafael Coisinho – Então, tô numa época da minha vida, essa coisa da juventude, em que ainda tento construir os meus ideais, desbravar, descobrir utopias. Acredito, tenho minhas noções e perspectivas, mas é algo que não pára e que a cada novidade se reestrutura e muda de corpo. É o que eu busco mesmo, demolir e construir, e assim seguir dando forma aos meus ideais. E é o que move né? É a questão do olhar. Minhas escolhas, sejam elas profissionais, afetivas ou simplesmente a forma que eu lido com o que chega, tudo isso passa pelo meu ideal.

Iara – Normalmente as pessoas são mais guiadas pelos ideais quando estão na adolescência, e o que mais acontece é, aos poucos, quando vamos crescendo, irmos perdemos a maioria deles porque vamos “caindo” na realidade, blá, blá ,blá, trabalho, família... O que você acha sobre isso?
Rafael C. – Acho que alguns ideais se foram mesmo, e outros vieram. Isso de ficar preso a um sonho é perigoso. Eu já sonhei muito na vida (parece que sou uma pessoa de 70 anos né? Risos), eu já quis muita coisa: já me imaginei paleontólogo, médico, já imaginei cenários de vida pelos quais eu quis lutar, mas eu fujo de ficar preso a um sonho ou a um ideal, ou de ficar engessado. Não que eu não sustente meus desejos, eles se transformam mesmo, é a natureza deles, ou a minha natureza. Cada passo de descoberta reconfigura a gente, e tô vivo, né não?

Iara – Ou seja, Rafael Coisinho é volúvel! (risos)
Rafael C. – Volúvel? Não, isso dá uma ideia de que bate um vento e eu mudo, não é bem assim não. Existe um centro.

Iara – Porém, acho que a maioria das pessoas da nossa idade, hoje em dia, é assim.
Rafael C. – Ah, então eu tô na geração certa né. Que bom! Isso foi um abraço, essa fala, ó...

Iara – Ok, próxima: Uma música pra dançar.
Rafael C. – Poderia ser a que está tocando... não! (o que está tocando é Kraftwerk) Eu poderia dizer tanta coisa... As músicas que eu tenho dançado atualmente. Putz, que música eu fico doido gente? Tem música que eu fico doido, que eu pulo bastante...

Iara – Decida-se! (risos)
Rafael C. – Você está vendo o verdadeira Rafael, que leva 4 minutos pra se decidir por uma música! Essa é minha fraqueza, esconda isso! - 2 minutos depois – No carnaval, quando tocou “Quebre igual a negona” foi uma coisa bonita, e eu queria muito escutar essa música na rua... Aí eu pulei, pulei velho, pulei. Mas quando eu vi o povo dançando eu tive que parar pra ver, porque foi bonito viu. Mas não é essa a música ainda.

Iara- Nããããão! Agora já era! Vai rolar a ditadura da entrevistadora! (risos)
Rafael C. – Ah, bota aí uma nervosa do Radiohead, bota a Madonna, pra pular é bala. Hum, bota aí essa do Kraftwerk - Computer Love - que não tocou no show! Essa aí eu pulo.

Iara – Vamos aproveitar que você está se formando em arquitetura: uma construção interessante.

Rafael C. – No Brasil ou no mundo? Eu vou no mundo ein. Uma do Louis Kahn. Ele já se foi, mas era muito bom. Foi a minha primeira grande inspiração na faculdade. A construção é a Assembléia Nacional de Bangladesh, em Dacca. Uma composição de monólitos prismáticos rasgados, uma construção forte, misteriosa apesar de simples.
E rolou uma identificação muito bacana com a população. Eles zelam muito pelo projeto, e esse eu acho que é o ideal de todo arquiteto, conseguir sensibilizar, fazer com que uma edificação realmente pertença àquele povo e lugar. É um pouco o que eu desejo para o meu trabalho, a arquitetura sendo vivenciada e apropriada de uma forma tão bonita como essa que o Kahn conseguiu.

Iara – Na pegada: um artista.
Rafael C. – Dessa vez vou ser rápido: Arto Lindsay. Eu adoro ele. Eu poderia falar outros que admiro, Carlinhos Brown, sei lá, mas deixa o Arto, porque ele extrapola a música. Ele brinca com os meios, com as fronteiras, admiro muito. Além disso é um cara que às vezes eu tenho oportunidade de me esbarrar por aí sabe? Não na tietagem né. Quando eu encontrei com ele, aqui no cinema, a gente conversou como duas pessoas comuns, como qualquer pessoa que pára ali diante daquele balcão. Falamos sobre arte, falamos até sobre arquitetura. Ele falou e escutou, foi uma troca, e apesar de estar tocando o som dele na hora eu não estava na posição do tiete. Ele deu conselhos, disse pra eu viajar, América Latina, essas coisas. Poxa, uma dica de Arto Lindsay, um cara que eu admiro muito! Ah, deixa eu falar.. Thonzinho gente! O Thom Yorke, esse menino me criou. Ele também é um artista e tanto.

Iara – E já está coroa en.
Rafael C. – É né, está envelhecendo, todos nós, mas não tá ficando chato não gente! Ele cresce... É outro artista que eu admiro muito. Pena que ele não vem nas sessões aqui do cinema, eu falaria um monte de coisa pra ele (risos).

Iara - Poxa, mas tietagem é fogo né, eu nunca pararia um artista na rua!
Rafael C. – É. Isso é uma coisa que eu condeno. Isso de abordar, falar, tirar foto... Eu acho meio deslocado... Mas sempre acabo fazendo. Eu já falei com muita gente. No auge dos Los Hermanos conheci o Rodrigo Amarante. Tirei a tal da foto, mas foi uma das melhores abordagens. Falei muita besteira, mas rolou uma identificação, trocamos piadas péssimas. Já não foi a mesma coisa com o Marcelo Camelo. Foi no Pelourinho, ano passado, me bati com ele – “ah, não vou falar com ele não!” – não deu 2 minutos e eu já estava lá falando com ele. Já falei com Wagner Moura, com Tom Zé, esse povo todo... Gente que eu admiro né. Mas condeno tietagem, bizarro, não vou fazer mais isso! (risos).


Iara – Ai, ai (risos). Vamos lá: Um filme de arte muito ruim.
Rafael C. – O Iluminado. Eu quase apanho quando falo isso, porque o filme é uma unanimidade, todo esse culto ao Kubrick, mas eu detesto esse filme! E por isso eu acabei detestando, por tabela, o Jack Nicholson, o que não é algo muito saudável porque às vezes ele é bom. Nesse filme ele só provou que sabe fazer careta, procurei a personagem e não achei. O Kubrick estragou uma história muito boa, esvaziou as coisas, e ele tinha um cenário bala na mão, além do recurso. Curto muito o Stephen King, também tem isso.

Iara – O amor já aconteceu para você?
Rafael C. – (risos prolongados) É engraçado isso de amor, porque quando eu era criança eu não gostava e nem entendia as músicas de amor, tipo Zezé di Camargo e Luciano, isso não fazia sentido nenhum, eu achava insuportável. Falar de amor era tipo um clichê vazio. Mas depois de certo dia tudo aquilo fez sentido (risos), aquelas músicas se revelaram para mim. Aconteceu, aconteceu gente, acontece... É bom, é meio sorte e revés, aprendizado, estrada. Uma coisa que eu aprendi (risos): o amor move... Amor constrói. É isso, respondendo a sua pergunta de antes, meu ideal é construir, talvez por isso eu tenha escolhido arquitetura e o amor...

Iara – É algo que vai fazer parte do seu prédio!
Rafael C. – Vai, vai, com certeza. É o catalisador, a argamassa. O amor é o que dá liga, é o que une as pessoas e os tijolos.

Iara – Esse é o conceito mais bonito que eu já ouvi menino! (risos)
Rafael C. – (risos) É, e eu quero morar bem.

Iara – A última então, super criativa, profunda, e inédita: Qual é a sua cor preferida?
Rafael C. – (depois de uma longa história) Então eu vou te dizer que é verde. (risos)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alface na Vaquinha ou...


Amargando tudo até o talo: assim é Dona Carlene Fontoura. E eu digo: meu deus, que pessoa é essa?! Doidinha, mas uma fofa, e todos que a conhecem sabem disso. Entrevistar “Carliene” foi receber uma explosão de palavras a jato, e admirar a falta de papas-na-língua - nem todos possuem essa coragem. Deve ser o signo! Vale dizer que essa louca aí nasceu no mesmo dia que a entrevistadora aqui (4 de junho), e é mais uma coleguinha do cinema – acho até que vou fazer uma série. =P


Iara - Vamos lá, pergunta picante: alface ou vaquinha?
Carlene – Alface, porque eu não como carne.

Iara- Hum, e por que ser vegetariana nos dias de hoje?
Carlene – É mais fácil, mas tá confusa essa sua pergunta (risos). Por que ainda ser vegetariana?

Iara – É, nesse contexto sociocultural que nos encontramos... Tem que interpretar, minha filha! (risos).
Carlene – Pra mim não tem um tempo pra ser vegetariana, eu acho que seria uma coisa que as pessoas deveriam pensar em qualquer momento.

Iara – Então em todas as suas encarnações você foi vegetariana?
Carlene – Isso eu não sei porque eu não sou espírita. Eu só acho que sou vegetariana hoje, porque é nisso que eu acredito. A alimentação é melhor e mais nutritiva. Meu organismo mudou completamente, meu psíquico, tudo isso mudou pra mim. Além da postura ética, pois eu acho que os animais não devem morrer por um prazer nosso. E tem a questão de boicote às grandes empresas que se aproveitam desse tipo de produto para poder vender, e se mantêm através deste ato violento, e as vezes são produtos porcaria, como o hambúrguer da Mcdonalds, que as pessoas acham um máximo, mas é o resto do resto do resto amassado e com um aroma.

Iara - Mas você já comeu na Mcdonalds?
Carlene – Nunca comi hambúrguer na minha vida, o máximo que eu comi foi cachorro quente. Na Mc só comi a batata frita.

Iara – O que você acha de ter nascido no mesmo dia que a Angelina Jolie? Isso te diz alguma coisa? (risos)
Carlene – Eu só espero que isso não me influencie a ter filhos, porque eu não quero ter filho. Não quero adotar filhos na Somália (risos). Eu não quero ter filhos em lugar nenhum.


Iara – E por que não ter filhos?
Carlene – Porque é um grande incômodo para a sociedade, até acho bacana as pessoas adotarem filhos, porque você não tá produzindo mais coisa, tá só utilizando o que já foi produzido.

Iara - Então você acha que ter filhos interfere no equilíbrio ambiental?
Carlene – Não é ambiental, é o equilíbrio da pessoa, entendeu? Acho que pra você ter filhos precisa ser uma pessoa equilibrada. E eu sou uma pessoa consciente a partir do momento em que admito minha incapacidade de ter filhos, e não tenho filhos! O pior é quando a pessoa é incapaz e tem filhos.

Iara – Incapaz em que sentido? Você não se acha capaz de colocar uma fralda?
Carlene – Não é uma questão prática (risos), é questão de uma pessoa depender de você física e psicologicamente, e você acaba sendo um reflexo pro filho.

Iara – E você não é um bom exemplo?
Carlene – Acho que não, ainda tenho muita coisa pra trabalhar psicologicamente, e ninguém merece sofrer por isso. Além d’eu achar que isso vai influenciar totalmente na minha liberdade, e eu não vou abrir mão disso por causa de outra pessoa. Ainda mais um filho que te obriga a abrir mão de algumas coisas.

Iara – Ok, ok... Como é ser uma mulher baiana hoje em dia?
Carlene – Eu não gosto do estereótipo de baiana, não me identifico, sou muito mais européia, gosto de castanhas, morango, não gosto de acarajé e de nenhum tipo de comida baiana. Acho lindo quem se identifica com isso, mas ao mesmo tempo acho que a baiana é uma figura meio babaca, que coloca a mulher com todo esse axé, esse afoxé... Essa baianidade nagô. Eu acho isso tudo uma farsa, não existe, na verdade, uma identidade única. A identidade só serve pra demarcar territórios, grupos... Não sei exatamente o que é ser uma mulher baiana. Eu não sou uma mulher baiana, eu sou uma mulher que pode ser baiana, carioca, paulista, pode ser qualquer coisa...


Iara – Neste mundo globalizado, não é mesmo?
Carlene – É né. Na verdade eu acho que a gente já era assim, e hoje a gente tá descobrindo, teorizando isso. Mas a gente sempre teve várias identidades.

Iara – (risos) Que figura! E o que você quer do seu futuro?
Carlene – Essa pergunta é muito difícil. Não sei! Eu queria pelo menos me realizar em alguma coisa profissionalmente. Não sei que linha eu vou seguir ainda, não tenho a mínima idéia. Só espero colocar em prática algumas coisas que acredito.

Iara – Como o quê?
Carlene – Não sei também. É muito complicado ainda dizer.

Iara – Você se identifica com o seu signo?
Carlene – Em alguns momentos sim. Me acho variável, mutável, inconstante, infelizmente... Mas eu tenho o signo e o ascendente na mesma porra. Então são 4 pessoas dentro de mim que eu tenho que lidar todos os dias, são 4 direções que me impedem de decidir uma única coisa, e isso não é legal.

Iara – Você acha que o relacionamento a dois dá certo?
Carlene – Esse negócio de relacionamento é uma coisa muito complicada. Existem níveis de relação, agora, eu não sei se dá certo. Claro que, quando você resolve ter uma troca mais íntima com alguém não é a mesma coisa que ter uma relação com amigos ou conhecidos, é muito mais profundo, a gente valoriza mais. Eu acredito que é um momento de trocas e experiências, e não que sem isso você não vai sobreviver. Qualquer relação é possível, com você mesma, com familiares, com o namorado, com amigas.

Iara – Última pergunta: você acha que o Brasil vai ganhar a próxima copa?
Carlene – Não! (risos)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cinema na chuva


Ramon: uma eterna criança de 24 anos, esquisita a ponto de comer siriguela com sal, mas que "dizem" escrever boas críticas de filmes, e que, assim como eu, também se apaixonou pela história. Como coleguinhas da sala de arte, não poderíamos ter "escolhido" outro local para a entrevista, que contou com as testemunhas/ coleguinhas Alê e Leo. Empada, café, após a sessão de "Vocês, os vivos", Leo coloca o gravador na tomada e... Gravando!


Iara - Ramon, fale um pouco sobre você.

Ramon – Hum... Ai, é difícil falar de mim, porque eu acredito que tenham vários adjetivos que eu ainda não sei ao meu respeito (risos), estou descobrindo. Inclusive quando alguém quer fazer uma entrevista comigo, isso já é um adjetivo, que dá algum tipo de importância, e isso é bonito.

Iara - Não necessariamente, o blog é sobre pessoas comuns (risos).

Ramon - Porém pessoas comuns, à primeira vista, podem ser extraordinárias, à segunda vista, né?

Iara – É... Três coisas que você gosta muito no mundo.

Ramon - Nossa... Dar risada... Cinema, música... Sei lá, tanta coisa... Momentos banais, conversas na madrugada, acordar e ficar na cama mais um pouco (risos). É, tá ótimo. Acho que dá pra ser feliz com isso.

Iara - Um medo.

Ramon - Vários... Medo de encarar, não o medo da morte, mas medo de ter que encarar a morte. Ter que vê-la chegando, e de como as pessoas vão ficar depois que eu for... É, medo de encarar a morte.

Iara - Qual é a melhor droga de todas?

Ramon - A melhor droga? Acho que o sexo é a melhor droga.

Iara - Você acha o sexo uma droga?!

Ramon - A MELHOR droga. Você entendeu, não venha com essa não, porque você entendeu... E você tá provocando mais que o Jô.

Iara - Ok, para Ramon o sexo é uma droga (risos). Bom, continuando, você já foi em Cajazeiras 11?

Ramon – Não, eu já fui em Mata Escura, e alí eu entendi o que Milton Santos queria dizer quando ele fala que as cidades estão se... Isso que a gente tava falando antes, que as pessoas não conseguem se locomover. E quando eu fui lá eu pensei que deve ser muito mais difícil sair de lá pra ir a outro lugar, ou viver simplesmente, porque são corredores estreitos... Sei lá, achei caótico. É Salvador na sua forma mais caótica, desordenada... O centro também é, mas talvez eu já esteja acostumado.

Iara - O que você acha sobre reciclar o lixo?

Ramon - O ideal, eu tento fazer isso, mas ainda estou nessa busca. Mas eu acho que não é só isso, junto com essa preocupação devem vir outras: o que você come, consome, lê, e até com quem você fala... Ser seletivo e crítico de maneira ampla mesmo.

Iara - Qual foi o melhor filme que você assistiu na sala de arte em 2008?

Ramon – É... Difícil... Acho que eu tenho que falar um bem cult né, pra parecer mais assim... (som da máquina de fazer café). Como é o nome daquele filme que o cara vai encontrar o pai, e o pai está tendo uma relação com uma prostituta? Não sei se foi o melhor, mas é um filme muito bom. Ah, aí depois o cara fica cuidando de uma livraria.. (uns 5 minutos depois) "Do outro lado"! Ufa, quase não sai.

Iara - Hum... Um livro chato.

Ramon – Tem, têm alguns... Acho que nunca terminei um livro chato mesmo, porque se passo das primeiras trinta páginas e ainda assim não empolga, acabo não terminando e consequentemente esqueço dele. Livro chato a gente esquece.

Iara - O que você acha da história atualmente?

Ramon - Você pensou nessa agora, não foi? (risos). Eu acho que a história é muito bem analisada, pensada, debatida, mas está muito restrita ao mundo da universidade. Eu acho que a história deveria está aqui, entre nós, a nossa história...

Iara - Mais ligada à prática profissional também né?

Ramon - É isso, a história está muito em palavras, precisamos da história em carne viva, porque ela era e é carne viva... Vivenciada enquanto significado, e não só como informação.

Iara - É ruim pra gente, quanto a emprego...

Ramon - É verdade, estamos nessa crise educacional em que a história é deixada de lado, né Iara? (risos) Nós precisamos dela, e a educação precisa de nós. Wagner precisa de nós na educação (risos).

Iara - A última: Uma saudade.

Ramon - Ai, eu sou péssimo com essas respostas espontâneas... A palavra fica bem séria, falar besteira é fácil né?! Hum... Ah, eu tenho saudade de subir no pé de siriguela numa roça que o meu avô tinha, com todos os meus primos, colocando sal...

Iara - Sal na siriguela? Fica bom isso?

Ramon - Devia ficar pra uma criança que gostava de subir no pé de siriguela.

(Voz de locutor de rádio)
Ramon Mota Coutinho, aqui da sala de arte direto para vocês, nesta tarde chuvosa em Salvador.

Pra ler Ramon - http://subliterato.blogspot.com/

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cervejinha (ou café) e conversa.

Nina é minha amiga e há muitos anos, desde os tempos de escola, lá pelo último ano, quando a gente estava naquela loucura do vestibular. Aí o tempo passou e a vida mudou, as necessidades mudaram. Precisamos crescer, trabalhar, e todas essas coisas de virar adulto, que cansa, mas deve compensar em algum momento da vida (eu acho). Eu gosto de Nina, entre outras coisas, por sua sinceridade direta. E também pelo fato dela ser um pouco Clarice Lispector, e eu sempre quis ser amiga da Clarice..


Iara - Vou começar com uma pergunta, que eu pesquei do livro de entrevistas da Clarice Lispector, porque foi uma pergunta que eu achei interessante:
- Qual é a sua fase atual?

Nina - Acho que a minha fase atual é comum a muitas pessoas, a todo mundo que saiu da faculdade agora e está procurando um lugarzinho no mundo, procurando ter um pouco de dignidade e deixar parte da adolescência pra lá. É complicado, dá uma angústia às vezes. Será que vai dar certo? Mas aí eu cito meus amigos gênios: Carol “Não vejo outra alternativa.” e, Thiago “Não pode esquecer que a vida é agora e passar todas as horas do seu dia na neurose, tem que rolar uma dose de perturbação.”. O lema é: se joga.

Iara - Nina, você, sendo assim como você é, se sente feliz?

Nina - humm... A vida não é miojo e, felicidade não é macarrão instantâneo. Eu acho que tenho coisas boas e ruins. Eu sou otimista e tento pensar em mim direitinho, me levo em conta. Vou vivendo, tenho esperança e gosto de muitas coisas em relação ao meu jeito. Outras vezes me acho uma anta quadrada e tenho vontade de espatifar minha cabeça na parede. Normal, né? Eu gosto de pensar que a gente aprende e melhora.

Iara - Você é mal-humorada?

Nina - Só com quem tenho muita intimidade (minha família) e, de vez em quando. Eu sou um pouco ácida, mas tento restringir isso a um bulin eventual, para não ficar uma coisa do mal.

Iara - Teatro ou cinema?

Nina - Cinema. Vomitei no teatro, mas eu gosto de dança.

Iara - Um artista.

Nina - Morrisey!

Iara - Um instrumento.

Nina - Violão, pela forma poética.

Iara - Hum, certo, Freud ou Jung? (risos)

Nina - Freud! Não conheço muito Jung também. Freud é fantástico, e por mais que digam que ele está ultrapassado, eu li Freud e identifiquei à mim e às pessoas naquilo. Uma coisa ou outra, tudo bem, concordo, ele estava errado, mas no geral, Freud desvendou a gente muito bem. Um puta filósofo.

Iara - Você pretende ajudar o mundo?

Nina – Não diretamente. Não é meu objetivo de vida. Pretendo ser uma pessoa boa e verdadeira. Agir no meu quadrado, rs. Fazer uma caridade aqui e ali seria bom, se a oportunidade surgir.

Iara - Você experimenta a solidão?

Nina - Sure, de dois tipos: aquela que ninguém te acorda porque está na hora do almoço, sem poluição sonora, sem encheção de saco. Essa é ótima, é o paraíso. Já a outra, é uma sensação de incomunicabilidade, de que não tem ninguém para ouvir o que você realmente quer dizer. Aquela sensação de que todo mundo é chato ou de que as pessoas queridas estão todas longe. A solidão desse tipo é meio chata, mas você se acostuma e procura sair dela, também.

Iara - A vida a dois dá certo?

Nina – Dá. Tudo dá certo pelo tempo que dá certo. Mas estar dando certo é fundamental. E, não existe certo e errado, errado é ficar se sentindo mal.

Iara - Três palavras para amizade?

Nina - Companheirismo, cervejinha (ou café) e conversa.

Iara – Comer bem é:

Comer bem é amar comer. Comida para mim é um negócio meio sagrado, então, não gosto de falar de maneira muito determinista sobre isso. Acho legal comer frugalmente, a não ser que se esteja diante de uma refeição dos deuses, ou de um momento descontrol passageiro. Para quem quase goza quando degusta uma coisa muito boa, fazer isso, na prática, pode demandar um esforço, um aprendizado, mas vale a pena. Além de deixar mais esbelto, comer sem fome deixa a comida pior. Experimentar é ótimo, eu experimento por pura curiosidade e procuro não pegar nojinho de nenhum alimento específico.
É bom também, no dia a dia, botar para dentro o que te faz bem. Filosofia gourmet hippie! Outra coisa: meninas, tenham ojeriza de dieta de revista, aquela em que se come requeijão light, iogurte light, leite light... Suco de laranja engorda? Azeite engorda? Não tomar mais de três copos de cerveja? Morram todos! Essas dietas são para quem realmente precisa.

Iara - Um beijo mi, valeu.


* Dedico esta entrevista à Clarice.

domingo, 8 de fevereiro de 2009


Cinzas

enquanto nós falamos sobre cigarros
que nunca serão fumados
nossas línguas aquecem
(a) vontade
queima, solitária, todas as manhãs

em plena chuva de palavrões
em oásis deserto
sua garganta inflama um grito
perseguido
por mim, por terra seca
pelo sofrer sem sentindo
indigesto, digerido

perdendo tempo em abusos
absurdos, em futuras provocações
nossas vontades afundam em colchões
moles, retidos em gestos
ainda presos em nós
nós, de ambos, de milhares
de centenas de almas
de finais felizes
falíveis, indiscretos

estamos a passos de distância
sua palavra,
minhas entranhas
meu gesto de colocá-la em você
para você
enquanto desconversamos
frases
algum sentido
de dentro, pra fora
de tudo o que me apavora,

o nosso amor vai embora,
cansado.

os cigarros estão queimados
meus braços estão queimados
o meu dia, riscos.
o meu sono, poesia, minha,
um gesto para querer alcançá-la
colocando-a em você.
você.