domingo, 8 de fevereiro de 2009


Cinzas

enquanto nós falamos sobre cigarros
que nunca serão fumados
nossas línguas aquecem
(a) vontade
queima, solitária, todas as manhãs

em plena chuva de palavrões
em oásis deserto
sua garganta inflama um grito
perseguido
por mim, por terra seca
pelo sofrer sem sentindo
indigesto, digerido

perdendo tempo em abusos
absurdos, em futuras provocações
nossas vontades afundam em colchões
moles, retidos em gestos
ainda presos em nós
nós, de ambos, de milhares
de centenas de almas
de finais felizes
falíveis, indiscretos

estamos a passos de distância
sua palavra,
minhas entranhas
meu gesto de colocá-la em você
para você
enquanto desconversamos
frases
algum sentido
de dentro, pra fora
de tudo o que me apavora,

o nosso amor vai embora,
cansado.

os cigarros estão queimados
meus braços estão queimados
o meu dia, riscos.
o meu sono, poesia, minha,
um gesto para querer alcançá-la
colocando-a em você.
você.

4 comentários:

lekineka disse...

caramba!! pasma. esse lado poetisa precisa ser exposto mais vezes. li, reli e ainda tô lendo e relendo. e absorvendo. gosto de coisas que me pasmam. pasmei...

Pulga disse...

=]

gostei mais de algumas partes que de outras, mas acho que a maior parte das coisas é assim mesmo.

gostei no todo, o que é mais importante.

e acho que lekineka tem razão! o/

Miranda disse...

Bem, acho que encontrei Iara nesse texto e me pergunto o que falta de Iara nos outros que li no ano passado. Entende o que quero dizer? Acho que entende. Sim, vc entende. Talvez eu pudesse dizer que há uma complexidade aqui bem juvenil e vejo então que vc toca no fundo de si mesma e sua poesia diz que não é lá muito fácil. Agora sei que vc é feita de algo muito mais estranho, e gosto do que já vislumbro só desse tantinho de lugar em que estou.
Quero ler mais...
bj, Iara! Salut ao seu blog!!
Fabrícia Miranda

Braga e Poesia disse...

adorei esta poesia, vc nada sabe de historia, mas é realmente uma poeta muito boa, e eu nada tenho contra a poesia quando é boa, mesmo quando o poeta é ppoliticamente reacionario,
hoje defender o pt é coisa de criminoso, mas vim aqui pensando uma coisa e me surpreendi com a qualidade desta poesia.
ronaldo braga