terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cervejinha (ou café) e conversa.

Nina é minha amiga e há muitos anos, desde os tempos de escola, lá pelo último ano, quando a gente estava naquela loucura do vestibular. Aí o tempo passou e a vida mudou, as necessidades mudaram. Precisamos crescer, trabalhar, e todas essas coisas de virar adulto, que cansa, mas deve compensar em algum momento da vida (eu acho). Eu gosto de Nina, entre outras coisas, por sua sinceridade direta. E também pelo fato dela ser um pouco Clarice Lispector, e eu sempre quis ser amiga da Clarice..


Iara - Vou começar com uma pergunta, que eu pesquei do livro de entrevistas da Clarice Lispector, porque foi uma pergunta que eu achei interessante:
- Qual é a sua fase atual?

Nina - Acho que a minha fase atual é comum a muitas pessoas, a todo mundo que saiu da faculdade agora e está procurando um lugarzinho no mundo, procurando ter um pouco de dignidade e deixar parte da adolescência pra lá. É complicado, dá uma angústia às vezes. Será que vai dar certo? Mas aí eu cito meus amigos gênios: Carol “Não vejo outra alternativa.” e, Thiago “Não pode esquecer que a vida é agora e passar todas as horas do seu dia na neurose, tem que rolar uma dose de perturbação.”. O lema é: se joga.

Iara - Nina, você, sendo assim como você é, se sente feliz?

Nina - humm... A vida não é miojo e, felicidade não é macarrão instantâneo. Eu acho que tenho coisas boas e ruins. Eu sou otimista e tento pensar em mim direitinho, me levo em conta. Vou vivendo, tenho esperança e gosto de muitas coisas em relação ao meu jeito. Outras vezes me acho uma anta quadrada e tenho vontade de espatifar minha cabeça na parede. Normal, né? Eu gosto de pensar que a gente aprende e melhora.

Iara - Você é mal-humorada?

Nina - Só com quem tenho muita intimidade (minha família) e, de vez em quando. Eu sou um pouco ácida, mas tento restringir isso a um bulin eventual, para não ficar uma coisa do mal.

Iara - Teatro ou cinema?

Nina - Cinema. Vomitei no teatro, mas eu gosto de dança.

Iara - Um artista.

Nina - Morrisey!

Iara - Um instrumento.

Nina - Violão, pela forma poética.

Iara - Hum, certo, Freud ou Jung? (risos)

Nina - Freud! Não conheço muito Jung também. Freud é fantástico, e por mais que digam que ele está ultrapassado, eu li Freud e identifiquei à mim e às pessoas naquilo. Uma coisa ou outra, tudo bem, concordo, ele estava errado, mas no geral, Freud desvendou a gente muito bem. Um puta filósofo.

Iara - Você pretende ajudar o mundo?

Nina – Não diretamente. Não é meu objetivo de vida. Pretendo ser uma pessoa boa e verdadeira. Agir no meu quadrado, rs. Fazer uma caridade aqui e ali seria bom, se a oportunidade surgir.

Iara - Você experimenta a solidão?

Nina - Sure, de dois tipos: aquela que ninguém te acorda porque está na hora do almoço, sem poluição sonora, sem encheção de saco. Essa é ótima, é o paraíso. Já a outra, é uma sensação de incomunicabilidade, de que não tem ninguém para ouvir o que você realmente quer dizer. Aquela sensação de que todo mundo é chato ou de que as pessoas queridas estão todas longe. A solidão desse tipo é meio chata, mas você se acostuma e procura sair dela, também.

Iara - A vida a dois dá certo?

Nina – Dá. Tudo dá certo pelo tempo que dá certo. Mas estar dando certo é fundamental. E, não existe certo e errado, errado é ficar se sentindo mal.

Iara - Três palavras para amizade?

Nina - Companheirismo, cervejinha (ou café) e conversa.

Iara – Comer bem é:

Comer bem é amar comer. Comida para mim é um negócio meio sagrado, então, não gosto de falar de maneira muito determinista sobre isso. Acho legal comer frugalmente, a não ser que se esteja diante de uma refeição dos deuses, ou de um momento descontrol passageiro. Para quem quase goza quando degusta uma coisa muito boa, fazer isso, na prática, pode demandar um esforço, um aprendizado, mas vale a pena. Além de deixar mais esbelto, comer sem fome deixa a comida pior. Experimentar é ótimo, eu experimento por pura curiosidade e procuro não pegar nojinho de nenhum alimento específico.
É bom também, no dia a dia, botar para dentro o que te faz bem. Filosofia gourmet hippie! Outra coisa: meninas, tenham ojeriza de dieta de revista, aquela em que se come requeijão light, iogurte light, leite light... Suco de laranja engorda? Azeite engorda? Não tomar mais de três copos de cerveja? Morram todos! Essas dietas são para quem realmente precisa.

Iara - Um beijo mi, valeu.


* Dedico esta entrevista à Clarice.

domingo, 8 de fevereiro de 2009


Cinzas

enquanto nós falamos sobre cigarros
que nunca serão fumados
nossas línguas aquecem
(a) vontade
queima, solitária, todas as manhãs

em plena chuva de palavrões
em oásis deserto
sua garganta inflama um grito
perseguido
por mim, por terra seca
pelo sofrer sem sentindo
indigesto, digerido

perdendo tempo em abusos
absurdos, em futuras provocações
nossas vontades afundam em colchões
moles, retidos em gestos
ainda presos em nós
nós, de ambos, de milhares
de centenas de almas
de finais felizes
falíveis, indiscretos

estamos a passos de distância
sua palavra,
minhas entranhas
meu gesto de colocá-la em você
para você
enquanto desconversamos
frases
algum sentido
de dentro, pra fora
de tudo o que me apavora,

o nosso amor vai embora,
cansado.

os cigarros estão queimados
meus braços estão queimados
o meu dia, riscos.
o meu sono, poesia, minha,
um gesto para querer alcançá-la
colocando-a em você.
você.