quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alface na Vaquinha ou...


Amargando tudo até o talo: assim é Dona Carlene Fontoura. E eu digo: meu deus, que pessoa é essa?! Doidinha, mas uma fofa, e todos que a conhecem sabem disso. Entrevistar “Carliene” foi receber uma explosão de palavras a jato, e admirar a falta de papas-na-língua - nem todos possuem essa coragem. Deve ser o signo! Vale dizer que essa louca aí nasceu no mesmo dia que a entrevistadora aqui (4 de junho), e é mais uma coleguinha do cinema – acho até que vou fazer uma série. =P


Iara - Vamos lá, pergunta picante: alface ou vaquinha?
Carlene – Alface, porque eu não como carne.

Iara- Hum, e por que ser vegetariana nos dias de hoje?
Carlene – É mais fácil, mas tá confusa essa sua pergunta (risos). Por que ainda ser vegetariana?

Iara – É, nesse contexto sociocultural que nos encontramos... Tem que interpretar, minha filha! (risos).
Carlene – Pra mim não tem um tempo pra ser vegetariana, eu acho que seria uma coisa que as pessoas deveriam pensar em qualquer momento.

Iara – Então em todas as suas encarnações você foi vegetariana?
Carlene – Isso eu não sei porque eu não sou espírita. Eu só acho que sou vegetariana hoje, porque é nisso que eu acredito. A alimentação é melhor e mais nutritiva. Meu organismo mudou completamente, meu psíquico, tudo isso mudou pra mim. Além da postura ética, pois eu acho que os animais não devem morrer por um prazer nosso. E tem a questão de boicote às grandes empresas que se aproveitam desse tipo de produto para poder vender, e se mantêm através deste ato violento, e as vezes são produtos porcaria, como o hambúrguer da Mcdonalds, que as pessoas acham um máximo, mas é o resto do resto do resto amassado e com um aroma.

Iara - Mas você já comeu na Mcdonalds?
Carlene – Nunca comi hambúrguer na minha vida, o máximo que eu comi foi cachorro quente. Na Mc só comi a batata frita.

Iara – O que você acha de ter nascido no mesmo dia que a Angelina Jolie? Isso te diz alguma coisa? (risos)
Carlene – Eu só espero que isso não me influencie a ter filhos, porque eu não quero ter filho. Não quero adotar filhos na Somália (risos). Eu não quero ter filhos em lugar nenhum.


Iara – E por que não ter filhos?
Carlene – Porque é um grande incômodo para a sociedade, até acho bacana as pessoas adotarem filhos, porque você não tá produzindo mais coisa, tá só utilizando o que já foi produzido.

Iara - Então você acha que ter filhos interfere no equilíbrio ambiental?
Carlene – Não é ambiental, é o equilíbrio da pessoa, entendeu? Acho que pra você ter filhos precisa ser uma pessoa equilibrada. E eu sou uma pessoa consciente a partir do momento em que admito minha incapacidade de ter filhos, e não tenho filhos! O pior é quando a pessoa é incapaz e tem filhos.

Iara – Incapaz em que sentido? Você não se acha capaz de colocar uma fralda?
Carlene – Não é uma questão prática (risos), é questão de uma pessoa depender de você física e psicologicamente, e você acaba sendo um reflexo pro filho.

Iara – E você não é um bom exemplo?
Carlene – Acho que não, ainda tenho muita coisa pra trabalhar psicologicamente, e ninguém merece sofrer por isso. Além d’eu achar que isso vai influenciar totalmente na minha liberdade, e eu não vou abrir mão disso por causa de outra pessoa. Ainda mais um filho que te obriga a abrir mão de algumas coisas.

Iara – Ok, ok... Como é ser uma mulher baiana hoje em dia?
Carlene – Eu não gosto do estereótipo de baiana, não me identifico, sou muito mais européia, gosto de castanhas, morango, não gosto de acarajé e de nenhum tipo de comida baiana. Acho lindo quem se identifica com isso, mas ao mesmo tempo acho que a baiana é uma figura meio babaca, que coloca a mulher com todo esse axé, esse afoxé... Essa baianidade nagô. Eu acho isso tudo uma farsa, não existe, na verdade, uma identidade única. A identidade só serve pra demarcar territórios, grupos... Não sei exatamente o que é ser uma mulher baiana. Eu não sou uma mulher baiana, eu sou uma mulher que pode ser baiana, carioca, paulista, pode ser qualquer coisa...


Iara – Neste mundo globalizado, não é mesmo?
Carlene – É né. Na verdade eu acho que a gente já era assim, e hoje a gente tá descobrindo, teorizando isso. Mas a gente sempre teve várias identidades.

Iara – (risos) Que figura! E o que você quer do seu futuro?
Carlene – Essa pergunta é muito difícil. Não sei! Eu queria pelo menos me realizar em alguma coisa profissionalmente. Não sei que linha eu vou seguir ainda, não tenho a mínima idéia. Só espero colocar em prática algumas coisas que acredito.

Iara – Como o quê?
Carlene – Não sei também. É muito complicado ainda dizer.

Iara – Você se identifica com o seu signo?
Carlene – Em alguns momentos sim. Me acho variável, mutável, inconstante, infelizmente... Mas eu tenho o signo e o ascendente na mesma porra. Então são 4 pessoas dentro de mim que eu tenho que lidar todos os dias, são 4 direções que me impedem de decidir uma única coisa, e isso não é legal.

Iara – Você acha que o relacionamento a dois dá certo?
Carlene – Esse negócio de relacionamento é uma coisa muito complicada. Existem níveis de relação, agora, eu não sei se dá certo. Claro que, quando você resolve ter uma troca mais íntima com alguém não é a mesma coisa que ter uma relação com amigos ou conhecidos, é muito mais profundo, a gente valoriza mais. Eu acredito que é um momento de trocas e experiências, e não que sem isso você não vai sobreviver. Qualquer relação é possível, com você mesma, com familiares, com o namorado, com amigas.

Iara – Última pergunta: você acha que o Brasil vai ganhar a próxima copa?
Carlene – Não! (risos)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cinema na chuva


Ramon: uma eterna criança de 24 anos, esquisita a ponto de comer siriguela com sal, mas que "dizem" escrever boas críticas de filmes, e que, assim como eu, também se apaixonou pela história. Como coleguinhas da sala de arte, não poderíamos ter "escolhido" outro local para a entrevista, que contou com as testemunhas/ coleguinhas Alê e Leo. Empada, café, após a sessão de "Vocês, os vivos", Leo coloca o gravador na tomada e... Gravando!


Iara - Ramon, fale um pouco sobre você.

Ramon – Hum... Ai, é difícil falar de mim, porque eu acredito que tenham vários adjetivos que eu ainda não sei ao meu respeito (risos), estou descobrindo. Inclusive quando alguém quer fazer uma entrevista comigo, isso já é um adjetivo, que dá algum tipo de importância, e isso é bonito.

Iara - Não necessariamente, o blog é sobre pessoas comuns (risos).

Ramon - Porém pessoas comuns, à primeira vista, podem ser extraordinárias, à segunda vista, né?

Iara – É... Três coisas que você gosta muito no mundo.

Ramon - Nossa... Dar risada... Cinema, música... Sei lá, tanta coisa... Momentos banais, conversas na madrugada, acordar e ficar na cama mais um pouco (risos). É, tá ótimo. Acho que dá pra ser feliz com isso.

Iara - Um medo.

Ramon - Vários... Medo de encarar, não o medo da morte, mas medo de ter que encarar a morte. Ter que vê-la chegando, e de como as pessoas vão ficar depois que eu for... É, medo de encarar a morte.

Iara - Qual é a melhor droga de todas?

Ramon - A melhor droga? Acho que o sexo é a melhor droga.

Iara - Você acha o sexo uma droga?!

Ramon - A MELHOR droga. Você entendeu, não venha com essa não, porque você entendeu... E você tá provocando mais que o Jô.

Iara - Ok, para Ramon o sexo é uma droga (risos). Bom, continuando, você já foi em Cajazeiras 11?

Ramon – Não, eu já fui em Mata Escura, e alí eu entendi o que Milton Santos queria dizer quando ele fala que as cidades estão se... Isso que a gente tava falando antes, que as pessoas não conseguem se locomover. E quando eu fui lá eu pensei que deve ser muito mais difícil sair de lá pra ir a outro lugar, ou viver simplesmente, porque são corredores estreitos... Sei lá, achei caótico. É Salvador na sua forma mais caótica, desordenada... O centro também é, mas talvez eu já esteja acostumado.

Iara - O que você acha sobre reciclar o lixo?

Ramon - O ideal, eu tento fazer isso, mas ainda estou nessa busca. Mas eu acho que não é só isso, junto com essa preocupação devem vir outras: o que você come, consome, lê, e até com quem você fala... Ser seletivo e crítico de maneira ampla mesmo.

Iara - Qual foi o melhor filme que você assistiu na sala de arte em 2008?

Ramon – É... Difícil... Acho que eu tenho que falar um bem cult né, pra parecer mais assim... (som da máquina de fazer café). Como é o nome daquele filme que o cara vai encontrar o pai, e o pai está tendo uma relação com uma prostituta? Não sei se foi o melhor, mas é um filme muito bom. Ah, aí depois o cara fica cuidando de uma livraria.. (uns 5 minutos depois) "Do outro lado"! Ufa, quase não sai.

Iara - Hum... Um livro chato.

Ramon – Tem, têm alguns... Acho que nunca terminei um livro chato mesmo, porque se passo das primeiras trinta páginas e ainda assim não empolga, acabo não terminando e consequentemente esqueço dele. Livro chato a gente esquece.

Iara - O que você acha da história atualmente?

Ramon - Você pensou nessa agora, não foi? (risos). Eu acho que a história é muito bem analisada, pensada, debatida, mas está muito restrita ao mundo da universidade. Eu acho que a história deveria está aqui, entre nós, a nossa história...

Iara - Mais ligada à prática profissional também né?

Ramon - É isso, a história está muito em palavras, precisamos da história em carne viva, porque ela era e é carne viva... Vivenciada enquanto significado, e não só como informação.

Iara - É ruim pra gente, quanto a emprego...

Ramon - É verdade, estamos nessa crise educacional em que a história é deixada de lado, né Iara? (risos) Nós precisamos dela, e a educação precisa de nós. Wagner precisa de nós na educação (risos).

Iara - A última: Uma saudade.

Ramon - Ai, eu sou péssimo com essas respostas espontâneas... A palavra fica bem séria, falar besteira é fácil né?! Hum... Ah, eu tenho saudade de subir no pé de siriguela numa roça que o meu avô tinha, com todos os meus primos, colocando sal...

Iara - Sal na siriguela? Fica bom isso?

Ramon - Devia ficar pra uma criança que gostava de subir no pé de siriguela.

(Voz de locutor de rádio)
Ramon Mota Coutinho, aqui da sala de arte direto para vocês, nesta tarde chuvosa em Salvador.

Pra ler Ramon - http://subliterato.blogspot.com/