domingo, 21 de março de 2010

Paul

Se eu tivesse que definir Gabriella para mim em uma única palavra seria "companheira". Justamente por isso foi um pouco difícil elaborar perguntas pra ela. É difícil perguntar algo pra alguém que muitas respostas você já sabe. (ou pensa que sabe.) Procurei iniciar com assuntos que realmente jamais soube, como no que ela pensa antes de dormir ou no que a faz lembrar de coisas.


Paul, como a chamo, é uma criatura jovem, porém bastante sensata. Fico sempre chocado com o fato dela ser da década de noventa... (enfim essa década deixou algo de bom, não é?) Também é uma menina viajada, do tipo que nasceu no sertão de Jacob city (também conhecida por Jacobina) e venceu as barreiras da Sulamérica e Europa. Temos muitos gostos em comum, inclusive algumas frutas.


Levei-a ao MAM sob pretexto de comunicar algo muito importante, o que a deixou tensa e curiosa. E aí comecei de repente a entrevista.


Finalmente, se eu tivesse que apagar tudo que disse antes e pudesse dizer ou desejar apenas uma coisa, diria ou desejaria, sem dúvida, que ela jamais pense em mim antes de dormir.



Gabriella - Beto, o que é isso? (...) Ah! Você vai fazer entrevista é? Que tenso... (...) Você já tá gravando? Não, né? Não vou nem falar "que indigno" porque cê vai colocar lá... (risos)


Beto – (Pergunta do último entrevistado) É melhor decretar a pena de morte no Brasil ou baixar a maioridade penal?

Gabriella - Acho que nenhum dos dois é melhor.


Beto -- Então qual o menos pior?

Gabriella -- O menos pior é diminuir a maioridade penal. Mas não concordo com nenhum dos dois, na verdade.


Beto -- Por que?

Gabriella -- Porque nenhum dos dois vai resolver o problema de violência do Brasil. No final das contas vai continuar tudo igual. Pra mudar alguma coisa só fazendo uma reforma política em coisas que vem da base: educação, alimentação, moradia, coisas do tipo, e que não acontecem no Brasil, no caso. Pena de morte ou diminuir a maioridade penal só resolveriam problemas pontuais.


Beto -- Em que você costuma pensar no momento antes de ir dormir?

Gabriella -- Depende muito do dia... Geralmente eu vou deitar e fico pensando em pessoas que passaram pela minha vida e que não ficaram muito tempo, do jeito que eu queria que ficasse. Pessoas cuja existência em minha vida foi muito efêmera. Não porque elas tenham morrido ou coisa do tipo, mas porque elas ficaram muito tempo presentes de uma forma intensa, tipo eu e você. Como se uma coisa que pudesse florescer mais tivesse se esvaído e eu penso muito nisso porque aconteceu já com várias pessoas. Penso muito nisso antes de dormir. Penso também no meu futuro... no dia de manhã... no meu tédio...


Beto -- Qual canção faz você lembrar coisas?

Gabriella -- É a única que vem no momento porque vi num filme no cinema recentemente... É Wouldn't it Be Nice do Beach Boys. É a única que vem no momento porque foi a última que vi e me lembrou coisas. Obviamente tem outras mas não tou conseguindo me lembrar agora.


Beto – O que ela te lembra?

Gabriella - Fez lembrar Taís.


Beto – Próxima pergunta: menino ou menina?

Gabriella – Minha avó não vai poder ler, né? (risos) Menina.


Beto – É mesmo? Esperava uma resposta diferente...

Gabriella – Esperava tipo, "os dois".


Beto – Tarantino, Scorsese ou Allen?

Gabriella – Tarantino. Pra falar a verdade, não conheço os três direito profundamente. Vi poucos filmes dos três, por incrível que pareça. Mas o que eu tenho visto de Tarantino ultimamente tem me deixado muito feliz e extasiada. É isso, velho. O cara é foda. Ele conseguiu despertar coisas em mim que é o tipo de coisa que busco quando estou vendo um filme.


Beto - O que há de melhor na juventude?

Gabriella – Poder fazer as coisas sem pensar muito nas consequências depois. Brincadeira. (risos) Porque sempre penso nas consequências do que vou fazer. O que há de melhor na juventude... acho que os jovens. São os jovens, se é que você me entende. (pausa de cinco segundos.) Eu respondi essa pergunta...


Beto – (risos) E o que há de pior?

Gabriella – Acho que é a ansiedade. E isso não é uma coisa só minha. Acredito que não, porque em conversas que tenho com amigos tem parecido uma coisa muito comum entre todos.


Beto – Que tipo de ansiedade?

Gabriella -- Essa de querer saber o que vem depois, querer que as coisas aconteçam muito rápido, achar que sua vida está estagnada e que você não está se movimentando muito, e você fica sempre esperando por alguma coisa que seja intensa, que te coloque pra cima.


Beto – Por que?

Gabriella -- É ruim porque se perde muito tempo pensando no que vem depois ao invés de estar pensando no agora e vivendo realmente as coisas, entendeu? É algo que acho ruim em mim e que também vejo nos meus amigos. A galera discute muito sobre.


Beto – O que você trouxe do exterior?

Gabriella – Vontade de voltar, em primeiro lugar. Coisas úteis e superficiais, como roupa...


Beto – A pergunta é mais pro sentido abstrato.

Gabriella – Eu sei. Trouxe boas lembranças, saudade, muita saudade. Tem uma coisa que ninguém sabe porque eu não falo, mas todo dia que acordo sempre penso nos dois lugares que já fui do exterior: Argentina e Portugal. E fico tentando ao máximo possível, em pequenas coisas, aproximar momentos do meu dia a esses lugares, entendeu?


Beto – Como?

Gabriella -- Uma vez falei pra Thaís que comer pão de fôrma integral com geleia me fazia lembrar a Argentina. Porque quando eu tava lá, meu café da manhã todos os dias era esse. E que toda vez que eu acordava de manhã e comia isso eu sentia uma coisinha no coração, sabe? Porque eu me sentia muito próxima daquilo. Era um momento do meu dia que eu estava meio entregue ao momento, sabe? E isso acontece até hoje com frequência. As vezes tou no ônibus também sentada na janela, fico olhando pra fora e tento imaginar as docas de Portugal que quando passava de carro eu via e achava uma coisa muito linda. E eu consigo imaginar. Eu tenho muita vontade de voltar nesse lugar.


Beto – Nas docas de qual cidade?

Gabriella – É tudo muito perto lá em Portugal. Não tenho certeza mas acho que era Lisboa. As províncias se confundem, não tenho certeza.


Beto – A pergunta pro próximo entrevistado.

Gabriella – Pô, já rolou essa. É meio clichê... O que você faria se o mundo acabasse amanhã? Já rolou essa, né?

BetoJá rolou.


Gabriella – É uma boa pergunta, sabia? Ok, vou fazer outra. O que você faria se acordasse um dia e descobriu que ganhou na loto? Pronto, já rolou essa também? (risos) Bota essa aí, Beto.

Beto – (risos) Que eu saiba não.


GabriellaNão vai rolar rapidinhas não? (risos)