sábado, 12 de setembro de 2009

A Santíssima Trindade

Acompanhei algumas vezes as andanças da santíssima trindade, após as aulas do Cefet, pelo centro de Salvador. Conheci vários locais undergrounds, me lembrei agora de um sebo de vinil, será que existe ainda? Bom, esse nome nós criamos agora, não era um “movimento organizado” nem nada, era só a mais pura amizade estudantil, num colégio que eu admirei muito, e lá fiz bons amigos. Numa retrospectiva Cefet, aí vai uma entrevista tripla:


Juli - Posso contar uma coisa engraçada, do Cefet, que eu estava lembrando outro dia?
Iara – Pode.
Juli - Eu tava lembrando que logo que eu comecei a andar com o Rodrigo e o Fernando, a gente tinha uns trabalhos pra fazer, e num dos trabalhos eu fiz um Planeta Terra com massinha de modelar...
Rodrigo - Na capa.
Juli – Isso! E eu fui tentar fazer outros trabalhos com eles, mas acho que na época eu tava muito “banda vuô”, eu lembro que Fernando ficou meio assim: iii, essa guria vai colar de novo? Ela não quer fazer nada (risos).
Rodrigo - Eu gostei do planetinha, e eu tenho certeza que 70% da nota foi por causa do planetinha.

Iara – Então tá, é isso que eu ia perguntar: como foi que começou a amizade?
Rodrigo – Ah, foi assim: eu me lembro da primeira vez que falei com o Fernando, eu chamei ele de mineiro e quase apanhei por essa constatação óbvia.
Fernando – É, começou com um acesso de raiva, eu sentindo raiva de Rodrigo.
Rodrigo – Eu tava descendo o pavilhão 1 de aula, que ficava na frente da praça vermelha, ele falou na sala de aula e eu percebi que ele era mineiro, aí eu falei: oi mineiro. Aí ele me xingou de alguma forma escrota e saiu. Eu pensei: porra, legal, assim começa uma grande amizade, todas as grandes amizades começam com um palavrão, lógico.

Iara – Sim, aí vocês começaram a falar com Juliana por causa do trabalho?
Juli – Rapaz, a gente começou a se falar mesmo no 2° ano.
Fernando – É, engraçado que Juliana só se integrou à gente mais no 2° ano.
Rodrigo – Ou a gente se integrou à ela.
Juli – Na verdade eu só me integrei, no colégio, lá pelo 2° ano (risos).
Rodrigo – A Juliana era estranha, não que ela não seja mais.
Fernando – Naquelas dinâmicas de integração que os professores faziam no começo do ano, Caracas! Não havia a menor chance de ser amigos né, era água e óleo puro. Só que o 2° ano meio que mostrou pra gente que era pra misturar mesmo.
Juli – E bota misturar nisso. Até hoje eu tenho os bilhetinhos da gente escrevendo na aula (risos).
Fernando – É, tudo bem, a gente tinha 16 anos né. O mais show foi quando o Rodrigo comprou uma calculadora algébrica, ela escrevia os algarismos, a gente batia papo pela calculadora.
Rodrigo – MSN de calculadora!
Juli – Tá aqui em casa ela. Ah, eu só quero falar mais uma coisa, eu preciso dizer isso. No 2° ano, na verdade, eu tava pra desistir do colégio, eu não aguentava mais, e uma das coisas que me ajudou a ficar foi me juntar com os dois. Foi tipo tábua de salvação... E às vezes a gente ficava lá à tarde, e quando eu tava meio estranha a gente comprava um pote de sorvete e destruía (risos). Cara, me ajudaram muuuito a levar adiante, porque realmente...
Rodrigo – É, era uma época estranha...
Iara – É, o Cefet era muito puxado.

(Papo falando mal das pobres professoras de exatas – tsc, tsc, coisa feia! risos)

Fernando - Será que cabe a gente falar da nossa fase evangélica, Rodrigo? Ou será que Juliana pode ser poupada disso?
Juli – Ôôô, eu sobrevivi, tá, segue. Próxima pergunta.

Iara – Como assim fase evangélica? Vocês começaram a ler a "Briba"?
Os três – (Comoção geral) Não, muito pior...
Rodrigo – Existe um movimento evangélico no Cefet chamado Shalon.
Fernando – Existia um forte núcleo evangélico na nossa sala.
Iara – Ah, eu lembro disso!
Rodrigo – Marcos, um grande amigo nosso, era evangélico.
Fernando – Marcos era legal às vezes, ele aceitava dialogar, e enquanto a gente esteve dentro do Cefet ele fez parte desse grupo. Ou seja, era um quarteto. Quase um quinteto na época do Piuí.
Juli – Ah, eu quero dizer que não participei disso!

Iara – Nossa infância foi mais feliz com menos tecnologia?
(Silêncio total)
Iara – Tá gente, eu sei que formulo mal minhas perguntas.
Rodrigo – É em comparação com a minha infância agora, com tecnologia, ou com a infância que eu tive, sem tecnologia? (risos)
Juli – Eu acho que não é a tecnologia que faz a infância mais feliz ou não, o que acontece é uma confluência de coisas que vieram junto com essa tecnologia, a tal da era da informação, que significa você passar mais tempo na rua trabalhando, individualismo, famílias menores, o que configura algo diferente, tipo, as crianças têm mais amizade com a Tv e o videogame do que com pessoas, não andam tanto de bicicleta, não sobem em árvore...
Rodrigo – Tá meio inseguro sair na rua hoje em dia. Mas acho que sim, acho que a minha infância foi mais feliz do jeito que foi, do que seria hoje, ou foi mais completa. Pelo menos eu tive experiências que hoje eu não teria e acho que fariam falta, tipo subir em árvore é legal, se arrebentar também, cair de bicicleta, brigar com amiguinho na rua, pô, brigar com amiguinho é fundamental.
Fernando – Disso eu não posso reclamar, porque eu passei mais de dez anos da minha infância com o meu irmão e a gente morava na zona rural. E ir à cidade era uma alegria pros nossos primos, porque era mais gente pra brincar com eles, aí a gente inventava umas brincadeiras mais urbanas, se esconder nas ruas e tal.
Rodrigo – Tocar a campainha e correr! Essa geração não tocou a campinha e correu.
Juli – Ah, tocou sim, outro dia fizeram isso aqui na porta (risos). Mas eu não acho que a tecnologia seja o problema.
Fernando – Assim, mas eu ainda acho que o maior problema é como eles estão usando a internet justamente para encurtar a infância e estender a adolescência. Porque se fosse pra promover maior integração entre as crianças pra que elas pudessem fazer coisas semelhantes ao que a gente fazia, só que propiciadas pela tecnologia, não sei se isso seria ruim não, talvez fosse bom.

Iara – História sem fim, Duro de Matar ou Coração Valente?
Fernando – História sem fim.
Juli – Filme: Coração Valente. Se for o livro, História sem fim.
Rodrigo – Matrix.
(Risos gerais)

Iara – O gol mais bonito de todos os tempos.
Rodrigo – Ah, eu sei o meu! 2005, Grêmio na série B, contra o Náutico, nos Aflitos, último jogo do campeonato, Grêmio precisando ganhar pra ser campeão e subir pra série A. 4 jogadores do Grêmio expulsos, 2 pênaltis contra, um o goleiro pega e o outro vai na trave. Daí Anderson faz o gol sozinho, totalmente abatido, e o time mais incompetente da história foi o Náutico, mas foi o gol mais lindo do mundo, depois daquele gol de Renato no Mundial. Aos 61 do 2° tempo, depois de 20 minutos de paralisação, expulsão e briga em campo, e... foi legal. Vejam isso no youtube. (risos).
Fernando – Final da Copa América, Brasil x Argentina, a gente lá no Chuleta, comemorando o aniversário de Iuri e aí o porra do Adriano salva a péssima campanha da seleção brasileira fazendo um gol no finalzinho, traumatizando os argentinos e impedindo que eles ganhassem de qualquer jeito nos pênaltis. Detalhes para o Rodrigo torcendo violentamente para a Argentina e ele solitariamente vencendo o jogo até o final, quando o Adriano faz o gol e todo o bar perturba o juízo do pobre garoto.
Juli – Acho que se eu for falar de qualquer gol, só seria capaz de pensar em futebol de robô. Não tenho registro de gol bonito, lembro de ter visto alguns gols depois que eu comecei a trabalhar com futebol de robô. Tiveram alguns jogos que a gente praticamente fazia gol no grito (risos). Ou a gente fazia ou perdia, já no finalzinho dos jogos. Acho que esses são os gols mais marcantes que eu tenho. Bahia MR bicampeão brasileiro, Salvador e Florianópolis (risos).

Iara – A religião é o ópio do povo?
Rodrigo – É! Um dos.
Fernando – Marx precisa ser relido no Brasil. Eu acho que o futebol é muito mais ópio hoje do que a religião, aqui. Os números da Universal do Reino de Deus são assustadores, mas não me assustam tanto, em termo nacional. Eu acho que se destruíssem todas as Igrejas Universais, o movimento no Brasil seria bem menor do que se destruíssem todos os estádios de futebol, entendeu?
Juli – Bem ou mal tem cristãos, evangélicos e espíritas no estádio (risos). A religião, como a maior parte das pessoas pratica, eu acho que é ópio, mas no sentido de religiosidade, de espiritualidade, eu acho importante.

Iara – Um livro muito bom.
Fernando – Meu Deus, que cruel! Acho que a do filme era mais fácil. Poxa, eu sou obrigado a dizer um livro, sacanagem, eu vou dizer Crime e Castigo, do Dostoievski, foi um livro que me marcou.
Rodrigo – Pô, escolher 1 é sacanagem mesmo, mas um livro que mudou a minha vida foi uma trilogia...
Iara Senhor dos Anéis (risos).
Rodrigo – Não, o Senhor dos Anéis foi importante também, mas não foi o que deu o “baque”. O que deu o “baque” mesmo foi o do Sartre, a trilogia Os Caminhos da Liberdade, e A Peste, do Albert Camus. Se eu tivesse que escolher um só seria A Peste.
Juli – Tem três livros que foram muito interessantes, pelo fato de que foram livros que interagiram, sabe? O 1984 que é violentíssimo, George Orwell , o Cem anos de solidão, que é absurdo! Eu via borboletas por aí, porra! São 4! (risos). Grande Sertão: Veredas, eu o li na UFBA, e eu lembro que eu tinha acabado de ler o Cem anos de solidão, e era engraçado porque os livros eram mais ou menos do mesmo tamanho, mas era como se o Grande Sertão: Veredas fosse bem mais pesado, e eu tinha a sensação de que realmente ele carregava o mundo dentro dele. E pela questão da interação eu não posso deixar de falar do Ensaio Sobre a Cegueira, porque eu pensava: pô, eu tenho que ir pegar ônibus, mas como, se eu sou cega? (risos). É incrível como esses livros me fizeram entrar completamente na história.

Iara – Ok, vou usar a dica que Juli deixou no blog: Deixem uma pergunta para os próximos entrevistados.
Fernando – Uma pergunta para a posteridade.
Rodrigo – Não era pro próximo entrevistado?
Fernando – Sim, ele será pós à gente.
Rodrigo – Eu tenho uma pergunta: oi, tudo bem?
Juli – Não, ele tá me fazendo fazer uma pergunta idiota, mas eu não vou fazer, não vou fazer (risos)!
Fernando – Você costuma fazer perguntas, tipo, o que você faria se o mundo acabasse amanhã?
Iara – Eu nunca fiz essa... Essa é meio batida, né Fernando? Mas é legal.
Rodrigo – Ah, eu tenho uma melhor: qual é o seu pecado capital favorito? Você descobre muito sobre a pessoa depois de perguntar isso.
Juli – Ah, eu tenho uma pergunta ótima: homem ou mulher?
Rodrigo – Gente, isso é do mal. É uma pergunta, não é pra deixar o cara em crise (risos).

Valeu meninos e menina! :)
* um valeu para Bruno, o fotógrafo da noite.

13 comentários:

Beto Góis disse...

Sempre soube que Juliana curtia o Shalom.

"Lúcia é feia!"

=P

Rafael dos Prazeres disse...

rsrsrsrrs. Massa essa idéia do Shalom. rsrsr. Muito lindo!

Samaael disse...

Cara... eu sabia que o shalom devia ser omitido... mas... ficou massa!
Vejam o gol de Anderson heuehuehuehue

Shadow Angel disse...

Massa a entrevista...

Iara Canuto disse...

é Shalom ou Shalon? me digam, se for com M preciso modificar lá na entrevista. :)

Patucao disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patucao disse...

Olha, acho que eles já se intitulavam Santíssima trindade nos idos de antigamente. É o que fontes seguras me revelaram.

Ficou bem boa! Como tenho ouvido dizerem por aqui pelo Sul.

P.S.: Não tentem editar seus comentários. Não vale a pena...

Unknown disse...

Faltou dizer que eu é que ajudei em física, hein JU? Ainda morava no Iguatemi Multiplus e estudamos pra valer, enquanto a turma jogava videogame (futebol...).

ETFBa. para mim, CEFET pra ti... Quem por ali passa realmente carrega algumas marcas, normalmente boas, por toda a vida. Creio eu.

Anna Clara disse...

Oi, tudo bem? E' a cara do Rodrigo!!

Beto Góis disse...

e esse comentário da anna clara.

alguem entendeu?

Juliana disse...

Hehehe.

acho que Anna Clara quis dizer que "Oi, tudo bem?!" é uma frase típica do Rodrigo. =P

subliterato disse...

demorei umas meia hora lendo essa entrevista... não teve como ñ lembrar do meu segundo grau! agora parece que foi a melhor época, mas na época parecia que era a pior...

Rafael disse...

Rolo de rir com suas perguntas!