
Amargando tudo até o talo: assim é Dona Carlene Fontoura. E eu digo: meu deus, que pessoa é essa?! Doidinha, mas uma fofa, e todos que a conhecem sabem disso. Entrevistar “Carliene” foi receber uma explosão de palavras a jato, e admirar a falta de papas-na-língua - nem todos possuem essa coragem. Deve ser o signo! Vale dizer que essa louca aí nasceu no mesmo dia que a entrevistadora aqui (4 de junho), e é mais uma coleguinha do cinema – acho até que vou fazer uma série. =P
Iara - Vamos lá, pergunta picante: alface ou vaquinha?
Carlene – Alface, porque eu não como carne.
Iara- Hum, e por que ser vegetariana nos dias de hoje?
Carlene – É mais fácil, mas tá confusa essa sua pergunta (risos). Por que ainda ser vegetariana?
Iara – É, nesse contexto sociocultural que nos encontramos... Tem que interpretar, minha filha! (risos).
Carlene – Pra mim não tem um tempo pra ser vegetariana, eu acho que seria uma coisa que as pessoas deveriam pensar em qualquer momento.
Iara – Então em todas as suas encarnações você foi vegetariana?
Carlene – Isso eu não sei porque eu não sou espírita. Eu só acho que sou vegetariana hoje, porque é nisso que eu acredito. A alimentação é melhor e mais nutritiva. Meu organismo mudou completamente, meu psíquico, tudo isso mudou pra mim. Além da postura ética, pois eu acho que os animais não devem morrer por um prazer nosso. E tem a questão de boicote às grandes empresas que se aproveitam desse tipo de produto para poder vender, e se mantêm através deste ato violento, e as vezes são produtos porcaria, como o hambúrguer da Mcdonalds, que as pessoas acham um máximo, mas é o resto do resto do resto amassado e com um aroma.
Iara - Mas você já comeu na Mcdonalds?
Carlene – Nunca comi hambúrguer na minha vida, o máximo que eu comi foi cachorro quente. Na Mc só comi a batata frita.
Iara – O que você acha de ter nascido no mesmo dia que a Angelina Jolie? Isso te diz alguma coisa? (risos)
Carlene – Eu só espero que isso não me influencie a ter filhos, porque eu não quero ter filho. Não quero adotar filhos na Somália (risos). Eu não quero ter filhos em lugar nenhum.

Iara – E por que não ter filhos?
Carlene – Porque é um grande incômodo para a sociedade, até acho bacana as pessoas adotarem filhos, porque você não tá produzindo mais coisa, tá só utilizando o que já foi produzido.
Iara - Então você acha que ter filhos interfere no equilíbrio ambiental?
Carlene – Não é ambiental, é o equilíbrio da pessoa, entendeu? Acho que pra você ter filhos precisa ser uma pessoa equilibrada. E eu sou uma pessoa consciente a partir do momento em que admito minha incapacidade de ter filhos, e não tenho filhos! O pior é quando a pessoa é incapaz e tem filhos.
Iara – Incapaz em que sentido? Você não se acha capaz de colocar uma fralda?
Carlene – Não é uma questão prática (risos), é questão de uma pessoa depender de você física e psicologicamente, e você acaba sendo um reflexo pro filho.
Iara – E você não é um bom exemplo?
Carlene – Acho que não, ainda tenho muita coisa pra trabalhar psicologicamente, e ninguém merece sofrer por isso. Além d’eu achar que isso vai influenciar totalmente na minha liberdade, e eu não vou abrir mão disso por causa de outra pessoa. Ainda mais um filho que te obriga a abrir mão de algumas coisas.
Iara – Ok, ok... Como é ser uma mulher baiana hoje em dia?
Carlene – Eu não gosto do estereótipo de baiana, não me identifico, sou muito mais européia, gosto de castanhas, morango, não gosto de acarajé e de nenhum tipo de comida baiana. Acho lindo quem se identifica com isso, mas ao mesmo tempo acho que a baiana é uma figura meio babaca, que coloca a mulher com todo esse axé, esse afoxé... Essa baianidade nagô. Eu acho isso tudo uma farsa, não existe, na verdade, uma identidade única. A identidade só serve pra demarcar territórios, grupos... Não sei exatamente o que é ser uma mulher baiana. Eu não sou uma mulher baiana, eu sou uma mulher que pode ser baiana, carioca, paulista, pode ser qualquer coisa...

Iara – Neste mundo globalizado, não é mesmo?
Carlene – É né. Na verdade eu acho que a gente já era assim, e hoje a gente tá descobrindo, teorizando isso. Mas a gente sempre teve várias identidades.
Iara – (risos) Que figura! E o que você quer do seu futuro?
Carlene – Essa pergunta é muito difícil. Não sei! Eu queria pelo menos me realizar em alguma coisa profissionalmente. Não sei que linha eu vou seguir ainda, não tenho a mínima idéia. Só espero colocar em prática algumas coisas que acredito.
Iara – Como o quê?
Carlene – Não sei também. É muito complicado ainda dizer.
Iara – Você se identifica com o seu signo?
Carlene – Em alguns momentos sim. Me acho variável, mutável, inconstante, infelizmente... Mas eu tenho o signo e o ascendente na mesma porra. Então são 4 pessoas dentro de mim que eu tenho que lidar todos os dias, são 4 direções que me impedem de decidir uma única coisa, e isso não é legal.
Iara – Você acha que o relacionamento a dois dá certo?
Carlene – Esse negócio de relacionamento é uma coisa muito complicada. Existem níveis de relação, agora, eu não sei se dá certo. Claro que, quando você resolve ter uma troca mais íntima com alguém não é a mesma coisa que ter uma relação com amigos ou conhecidos, é muito mais profundo, a gente valoriza mais. Eu acredito que é um momento de trocas e experiências, e não que sem isso você não vai sobreviver. Qualquer relação é possível, com você mesma, com familiares, com o namorado, com amigas.
Iara – Última pergunta: você acha que o Brasil vai ganhar a próxima copa?
Carlene – Não! (risos)